José Renato Nalini
O mundo civilizado percebeu que o Brasil renegou sua vocação de país ecológico para ceder ao imediatismo que produz terra arrasada. O empresariado já sentiu que o boicote internacional punirá severamente uma Nação que capenga na retomada de um desenvolvimento salvífico de sua gente miserável. Já não adianta argumentar com o protecionismo europeu, a conspirar contra as comodities tupiniquins. O comportamento sustentável é uma exigência ética de qualquer governo sensato.
Não há “narrativas” ou versões que sobrepujem a verdade dos fatos. Não é fake News o décimo quarto mês seguido de alta no indicador de desmatamento da Amazônia. Nem a proliferação de queimadas. Menos ainda, o desmanche das estruturas preservacionistas e a nítida vingança perpetrada contra quem tiver a coragem de denunciar os desmandos.
Propaganda contra a “conspiração” estrangeira é jogar dinheiro fora. Assim como turismo estatal destinado a convencer os governos hostilizados de que o Brasil continua a ser o melhor dos mundos. O planeta quer algo concreto, capaz de evidenciar mudança de rumo. Abandonar o barco do desprezo à natureza para uma surreal conversão que torne o governo um verdadeiro amigo do ambiente.
Só que o Brasil é uma Federação. Nela, São Paulo ocupa lugar de destaque. É a parcela mais desenvolvida desta pobre República. E tem de continuar a liderar movimentos que mostrem ao restante do globo que nem tudo é ignorância, negacionismo, aliança com o que há de pior na exploração dos recursos naturais e hostilidade em relação a quem tem consciência e coragem de mostrar o risco de destruição total do patrimônio ambiental.
São Paulo pode mostrar que é um Estado verde. Restaurando as feridas abertas na Serra do Mar, bioma também protegido pela Constituição e, por isso mesmo, igualmente atacado pelo desgoverno federal. Incentivando a formação de novas Reservas Naturais de Proteção Ambiental, criando novos parques, adotando um programa consistente de educação ecológica em todos os níveis.
A educação ambiental está prevista na lei fundante, mas não tem merecido a devida atenção. Ela consiste não apenas na formação de pessoal especializado em preservação, mas em projetos factíveis e despidos de qualquer dificuldade. Disseminar a ideia de recolha das sementes de árvores nativas e de criação de viveiros de mudas. Em todas as cidades, em todos os bairros.
A partir daí, fazer com que todos os espaços mereçam o verde que oxigena, melhora o clima, intensifica a qualidade ambiental e a vida de todos os seres viventes.
Premiar as melhores práticas de preservação espontânea. Há tantos amigos da natureza que iniciam programas de recuperação de espaços ociosos, renovação de parques, multiplicação de árvores, tutela de praças.
Feliz a ideia do Prefeito Bruno Covas de plantio de uma árvore para cada paulista vitimado pela Covid19. Melhor seria que essa ideia fosse amplificada para devolver à natureza um exemplar abatido pela ganância ignorante de quem prefere um solo asfáltico, propiciador de inundações e de catástrofes e ultrapassasse o número de óbitos em todo o Brasil.
As crianças e os jovens são mais sensíveis às mudanças climáticas e entendem melhor do que as consciências empedernidas e rançosas de muitos adultos escolarizados, o perigo que a humanidade corre se continuar a eliminar a fonte natural de vida que é um patrimônio gratuitamente ofertado a uma geração que a ele não faz jus.
Se São Paulo investir nessa política de regeneração e de demonstração de que nem todo o Brasil é insensível, ganhará maior respeito da comunidade internacional e capitalizará a possibilidade de investimentos sustentáveis.
É óbvio que o protagonismo deveria caber ao governo, mas também à sociedade organizada que não pode permanecer alheia a um procedimento predeterminado a extinguir o ambiente. A Universidade, o Terceiro Setor, a Igreja, o empresariado, todas as pessoas de boa vontade são conclamadas a reagir contra essa orquestra desafinada que nos coloca à beira do precipício ecológico e que transformou o Brasil no pária ambiental, como reconhecem insuspeitos empresários nacionais.
Uma São Paulo verde é perfeitamente possível e será a eficaz resposta a um plano destruidor, verdadeiro castigo até mais grave do que a pandemia que se abateu sobre nossa Pátria e para a qual não existe vacina.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); autor de “Ética Ambiental”, 4ª. Ed., RT-Thomson Reuters; atuou na Câmara Ambiental do TJSP-2005-2015.