Edson Rontani Junior
Tudo surgiu muito antes do que se pensa. Mas, como se sabe, a história é contada pelos vencedores. Assim, Piracicaba tem seu marco de fundação como sendo o primeiro de agosto de 1767. É a data oficial em que se fixou moradia por aqui, sendo que a região, desde 1693, era apenas um entreposto para bandeirantes. Era um ponto de passagem.
Em seu “Manual de História Piracicaba”, escrito por Guilherme Vitti e publicado pelo Jornal de Piracicaba durante as comemorações do segundo centenário de Piracicaba, o autor diz que a distribuição da Sesmaria de Piracicaba (primeiro nome de nosso vilarejo), ocorre na década de 1690 sem o propósito de sua ocupação. Quase um século mais tarde é elevada à Povoação, graças a Antonio Correa Barbosa, destinado a ser o povoador da cidade.
Recebemos diversas denominações como Freguesia de Piracicaba, Vila Nova da Constituição (em homenagem à carta magna de Portugal), Cidade da Constituição e, em 1887, é oficialmente denominada de Cidade de Piracicaba. Registros históricos demonstram que em 1693 a sesmaria de Piracicaba foi requerida por Pedro de Morais Cavalcanti, justificando que pretendia povoar a região. Ficou só na intenção …
Mas, de onde vem seu nome? Bom, cada cabeça tem uma sentença. O mais popular (“lugar onde o peixe para”) teve várias outras interpretações como “peixe que chega”, “lugar onde chega o peixe”, “colheita de peixe”, “lugar onde se ajunta peixe”, “rio por onde sobem os peixes”, ou “lugar em que se apanha o peixe com facilidade”.
O nome veio de uma expressão indígena que, segundo Vitti, era falado como “percicaba”, “piracicava” ou “piracicaba”, propagada entre os sertanistas. A história foi tão ingrata que não se sabe quais índios instituíram o nome de tão bela cidade interiorana. O autor arrisca dizer que podem ter sidos tribos dos barranqueiros, guaianeses, caiapós ou colorados, que sumiram com o tempo após serem acuados por outras tribos mais fortes ou, ainda, serem índios nômades em vias de extinção. Não que viveram por aqui, mas que mantiveram contato com os desbravadores em partes distantes de nossa região.
O capitão-mor de Itu, fez o primeiro registro da tradução de seu nome. Disse Vicente de Costa Taques Góes e Aranha, em memórias escritas em próprio punho durante a fundação da cidade, que aqui é “onde o peixe chega” ou “lugar onde chega o peixe”. O resto, é lenda. Ajuda a alimentar a imaginação humana.
Antonio Correa Barbosa veio para mudar a história. De entreposto, ele criou a vila que começaria bem ao lado do rio Piracicaba. Ocupou parte de onde, quatro décadas antes, havia sido concluída parte da estrada (“picadão”), que levaria os bandeirantes para o Mato Grosso durante a “febre do ouro” brasileira. O local serviria de destino para Cuiabá e tinha a vantagem do rio Piracicaba estar próximo ao rio Tietê, alternativas para navegação rápida ao centro-oeste brasileiro.
Porém, no meio do rio havia piranhas! Ou melhor índios paiaguás e caiapós que lançavam flechas sobre os desbravadores. A história conta que, de uma expedição com cerca de 300 homens brancos, os índios deixarem apenas cinco para que contassem o feitio para a posteridade.
O sertanista Antonio Correa Barbosa aparece neste meio tempo como povoador da junção do rio Piracicaba como Rio Tietê. Lá, ele deveria gerir um depósito de sal, uma fábrica de canoas e cultivar cereais para a colônia Forte de Iguatemi, divisa de onde depois seria criado o Paraguai. O local era pantanoso. Desagradou nossoo povoador. Este, pegou sua comitiva de desbravadores (aproximadamente 40 pessoas) e percorreu o Piracicaba até chegar onde hoje conhecemos como a mata ciliar entre Piracicaba e Limeira. Os desbravadores eram vadios (homem sem local fixo de trabalho), dispersos (homem sem família constituída) e vagabundos (andarilho e sem moradia fixa), termos, segundo Guilherme Vitti, que seguiam as colocações usuais de então. Barbosa tinha 32 anos à época da fundação.
Já por aqui estabelecido, em 1770, o capitão-general da província de São Paulo incumbe Correa Barbosa de reabrir o picadão para o Mato Grosso. Conclui a obra em quatro meses, recebendo em seguida o título de Capitão-Povoador.
Já na década de 1770, Piracicaba passa a atrair a atenção dos moradores de Itu, Porto Feliz e São Carlos (distrito de Piracicaba), que por aqui vem constituir moradia e família. Isso fez com que, de vilarejo, a capitania propusesse a criação de uma povoação, o que ocorreu em 31 de julho de 1784, data em que a cidade se expande além rio Piracicaba. Foi neste dia em que se delimita o primeiro arruamento da cidade. Antonio Correa Barbosa teria de expandir a cidade para um perímetro estipulado entre o rio Piracicaba e ribeirão do Itapeva (hoje avenida Armando de Salles Oliveira) findando-se próximo à área do Terminal Rodoviário Intermunicipal.
Esta seria, num brevíssimo relance, a vida em de Piracicaba há 253 anos atrás. Tudo iniciado por um certo capitão …
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Edson Rontani Junior, jornalista