Como o SUS e a escola pública afetam o seu bolso

Thales André Valle de Campos

 

Recentemente tivemos a aprovação do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), e vamos deixar claro: sou completamente a favor dessa política. Acredito que seja interessante fazer uma reflexão de como serviços oferecidos pelo Estado podem melhorar a vida e o poder de compra de grande parte da população, lembrando conceitos básicos de economia que muitas vezes deixamos de lado.

Em primeiro lugar, precisamos pensar na qualidade dos serviços quando analisamos a separação entre público e privado: quando o Estado oferece um determinado serviço, de qualquer natureza, para que o setor privado possa fazer o mesmo, ele precisa de um diferencial.

Então, se existem escolas públicas, para que as particulares justifiquem sua existência e, assim, conquistem clientes, elas precisam de um diferencial. Do mesmo jeito, como temos um sistema público e gratuito de saúde, as empresas que prestam serviços nessa área precisam ser melhores que sua contraparte estatal, caso contrário ninguém vai contratá-las.

Se você não concorda com isso, se pergunte: se as escolas públicas fossem melhores que as particulares, os pais continuariam pagando mensalidades para seus filhos todos os meses? Se o sistema público de saúde fosse eficiente, quantas pessoas continuariam a pagar convênios médicos?

Em segundo lugar, a concorrência controla valores: os serviços públicos fazem os preços dos serviços particulares ficarem baixos. Imagine que hoje foram fechadas todas as escolas públicas. Caso isso realmente acontecesse, a demanda por escolas particulares dispararia para níveis nunca antes vistos e, com isso, os preços também.

Para se ter ideia do quanto a procura por escolas particulares iria aumentar, em Piracicaba, no ano de 2018, só no ensino médio, foram matriculados 10.385 adolescentes na rede pública, enquanto na particular o total de matrículas foi de 2.622 (dados do QEdu). Com muito mais pessoas obrigadas a pagar por esse serviço, o valor cobrado, com certeza, iria aumentar, isso com base em um dos princípios mais básicos de economia, a “lei” da oferta e da demanda.

O mesmo vale para a saúde e nós não precisamos imaginar, basta olhar para os Estados Unidos nessa pandemia que estamos vivendo: mesmo o exame de COVID-19 sendo gratuito lá na terra do Tio Sam, só o atendimento hospitalar, sem nenhum procedimento, custa mais de mil dólares. E isso impediu muita gente de fazer o teste. Enfim, como não há saúde pública, o setor privado cobra preços exorbitantes. A conclusão que podemos tirar disso é que se o Brasil ficar sem o SUS, os preços dos atendimentos médicos e dos convênios vão aumentar muito.

E tudo que eu trouxe foi simplesmente o ponto de vista liberal, econômico, individualista da defesa dos serviços públicos. Acredito que isso seja suficiente para entender por que todos precisamos defender o SUS e as escolas públicas: caso eles desapareçam, os preços cobrados pelas empresas privadas vão aumentar e se tornarão absurdos, de maneira que a maior parte da população não vai conseguir pagar. E, caso você não consiga pensar nos outros, pense no seu próprio umbigo: o que acha de pagar mais de R$ 1.000,00 para dar um ponto num “cortinho” acidental? Ninguém quer isso, não é mesmo?

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Thales André Valle de Campos, Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo

 

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