O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Ministério da Cultura, publicou o tombamento emergencial do Complexo Beira Rio, em Piracicaba, em resposta a um pedido apresentado pelo Movimento Salve a Boyes e fundamentado por um extenso dossiê técnico, cultural, histórico e ambiental. A decisão tem como objetivo evitar danos irreversíveis à paisagem cultural da região, sobretudo diante da ameaça representada pela construção do projeto imobiliário “Mirante Boyes”, anteriormente denominado “Boulevard Boyes”.
O tombamento, registrado sob o processo nº 01506.000338/2024-19, abrange 19 imóveis públicos e privados, incluindo a antiga fábrica de tecidos Boyes, o Engenho Central, o Museu da Água, o Largo dos Pescadores, parques, praças, casarões e áreas de lazer ao longo das margens do Rio Piracicaba. A medida protege não apenas edificações isoladas, mas um conjunto paisagístico que compõe a identidade histórica e cultural do município.
De acordo com a Nota Técnica nº 226/2025 do IPHAN-SP, a decisão se baseia no risco iminente de descaracterização do local, motivado por sucessivas alterações legislativas municipais que flexibilizaram restrições urbanísticas e permitiram a verticalização da orla. O novo empreendimento, com quatro torres de mais de 90 metros e cerca de 440 unidades residenciais, causaria, segundo o IPHAN, uma “intrusão desproporcional” em relação ao entorno, marcado por edificações de baixo gabarito e uso predominantemente público.
A antiga fábrica Boyes é um símbolo da história industrial de Piracicaba e da relação entre o rio e a cidade. O espaço também é palco de manifestações tradicionais como a Festa do Divino, o Cururu, a Congada, o Samba de Lenço e o Batuque de Umbigada — expressões reconhecidas como patrimônio imaterial.
O tombamento emergencial garante que o IPHAN, em parceria com o Movimento Salve a Boyes, conduza, ao longo dos próximos 12 meses, um inventário participativo e estudos técnicos detalhados. Essa etapa preparatória resultará na delimitação definitiva do perímetro e na elaboração de diretrizes de preservação e gestão do Complexo.
O Movimento Salve a Boyes celebrou a decisão como uma conquista da sociedade piracicabana. “Essa vitória é o resultado de uma luta coletiva e plural, travada por artistas, historiadores, professores, ativistas e cidadãos engajados na defesa do nosso patrimônio. Preservar a Boyes e a orla do rio é preservar a história de Piracicaba e projetar a cidade para o futuro”, afirma a coordenação do movimento.
Com o tombamento em nível federal, Piracicaba eleva o reconhecimento de sua paisagem cultural à esfera nacional, o que poderá fortalecer políticas de preservação, atrair investimentos em turismo sustentável e reforçar o orgulho da população com seu patrimônio histórico.