Escola do Legislativo – Gestão de resíduos orgânicos é debatida em roda de conversa

Roda de conversa trouxe a educação ambiental e a compostagem como caminhos para a gestão dos resíduos orgânicos. CRÉDITO: Rubens Cardia

 

Evento promovido pela Escola do Legislativo, nesta terça-feira (12), debateu desafios e soluções para o correto aproveitamento dos resíduos orgânicos

 

 

Com a proposta de lançar um novo olhar para a gestão de resíduos orgânicos, o engenheiro ambiental, mestre em Ciências e empreendedor que atua no ramo da compostagem, Bruno Oliveira Garcia, conduziu uma roda de conversa na Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba, na tarde desta terça-feira (12).

“A Escola do Legislativo tem um papel de participação na sociedade de trazer a população aqui para dentro, para discutir políticas públicas, trazer e conscientizar sobre a importância da participação popular e nos ajudar a realizar trabalhos de forma assertiva aqui na Casa”, destacou o vereador Pedro Kawai (PSDB), Diretor da Escola do Legislativo, na abertura da roda de conversa.

O papel do “lixo” – Tratados muitas vezes apenas como “lixo”, como materiais incapazes de serem reaproveitados e que devem ser sumariamente descartados, os resíduos sólidos, na verdade, podem, em sua vasta maioria, receberem destinações bem mais nobres do que as que muitas vezes recebem, capazes de não apenas mitigar impactos ambientais mas também, por consequência, impactos sociais a eles inerentes.

“Eu me pergunto se existe algum problema exclusivamente ambiental. Tudo está relacionado. O ‘lixo’ ou qualquer outro problema considerado ambiental têm um recorte social por detrás”, destacou Bruno no início da atividade.

O engenheiro ambiental, na sequência, apresentou dados do Observatório do Clima que dão conta de que, no Brasil, a participação dos resíduos sólidos no perfil das emissões de gases de efeito estufa, em 2021, foi a quarta maior (4%) – ao lado do setor de processos industriais (4%) – em um ranking que traz, em ordem crescente, as mudanças de uso da terra e queimadas de florestas (49%), a agropecuária (25%) e o setor de energia (18%) como os maiores setores responsáveis por essas emissões.

Quando o recorte é regional, essa participação pode ser ainda maior, como é o caso da cidade de Cordeirópolis (SP), que em um inventário de Gases de Efeito Estufa feito no município, observou que o percentual representado pelos resíduos sólidos pode chegar a 14% do total das emissões.

Ainda de acordo com o engenheiro ambiental, no mundo, o setor de resíduos é responsável por 20% da emissão do gás metano (CH4), um dos gases do efeito estufa.

Resíduos sólidos urbanos – Durante a roda de conversa, Bruno Oliveira Garcia destacou que os resíduos sólidos possuem múltiplas classificações, desde resíduos industriais e comerciais, passando por resíduos resultantes do saneamento básico, da construção civil e da mineração, até os chamados resíduos sólidos urbanos, que são aqueles produzidos nos domicílios e na limpeza urbana, na poda e na capina, e que são compostos, no Brasil, por aproximadamente 45% de matéria orgânica, segundo dados do Plano Nacional dos Resíduos Sólidos.

Cada tipo de resíduo, destaca o engenheiro ambiental, deve receber uma destinação própria. Ele defende o chamado modelo de segregação em três frações, que basicamente consiste na separação dos resíduos sólidos em: resíduos recicláveis (plástico, vidro, metal, papel, por exemplo, que podem ser encaminhados para uma fábrica de reciclagem); resíduos orgânicos (como restos de alimentos, de podas e capinas, que podem ser direcionados à compostagem); e os chamados rejeitos (como fraldas e bitucas de cigarro, por exemplo, que devem seguir para aterros sanitários ou outras destinações adequadas).

“É uma luta que nós, composteiros, temos. Eu faço parte da Associação Brasileira de Compostagem, e lutamos pela segregação em três frações. Queremos que os resíduos comecem a ser separados assim, e que consigamos destinar os orgânicos corretamente também”, disse.

Em que pese o elevado percentual da reciclagem de materiais como o alumínio, que no Brasil chega a 98,7%, segundo informações trazidas durante a roda de conversa, menos de 1% do material orgânico é reciclado no país.

“É uma vergonha. E é o resíduo, arrisco a dizer, mais reciclável que existe, com a reciclabilidade mais fácil, natural”, disse Bruno, que ainda acrescentou, em tom indignado: “quantas vezes não vamos aos lugares e vemos os contêineres de resíduos com aquele símbolo do orgânico e aquela setinha [símbolo] da reciclagem com um “X” no meio! Como assim?! Os orgânicos são os mais recicláveis de todos!”.

Compostagem – Se a emissão de gases estufa é um problema ambiental que inexoravelmente impacta na dinâmica social, pondera Bruno, uma das saídas viáveis para a correta destinação dos resíduos sólidos, principalmente em se tratando dos resíduos sólidos urbanos, é o emprego da técnica conhecida como compostagem, um processo de decomposição da matéria orgânica em meio a um ambiente rico em oxigênio, água e microorganismos que resulta na produção de um composto orgânico que pode ser utilizado, por exemplo, como adubo em jardins domésticos e também na agricultura familiar.

Durante a atividade, foram apresentados diversos métodos de compostagem, que podem ser adotados em grande escala, seja por meio de sistemas fechados – em reatores com aeração forçada- , seja por meio de sistemas abertos, em leiras estáticas, com aeração passiva ou forçada, ou em leiras revolvidas de forma manual ou mecânica.

Foram também apresentados métodos considerados mais simples, como o enterramento, e a chamada vermicompostagem – que conta com o auxílio de minhocas para a transformação dos resíduos orgânicos -, e é apontada como bastante adequada para pessoas que dispõem de pouco espaço físico.

“A saída é coletiva” – Bruno Oliveira Garcia ainda apresentou diversos vídeos com exemplos de iniciativas, em todo o país, que estruturam cadeias de recolhimento, destinação e transformação de resíduos orgânicos, gerando em contrapartida emprego, renda, e frisou a importância de um olhar mais atento a estas iniciativas por parte do poder público e da sociedade como um todo.

“Eu não gosto de falar que uma iniciativa individual vai transformar o mundo. A saída é coletiva, temos que encontrar saídas coletivamente”, arrematou.

A roda de conversa “Novo olhar para a gestão dos resíduos orgânicos: educação ambiental e compostagem como solução para o problema do ‘lixo’”, pode ser revista, na íntegra, no canal do YouTube da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Piracicaba.

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