José Osmir Bertazzoni
As surpresas indesejadas e inesperadas constituem uma forma de abuso psicológico, tornando-se temas frequentes de conversas que, muitas vezes, assumem um tom satírico e desconfortável. Esses abusos são discutidos na mídia, em espaços públicos e em ambientes políticos, e acabam resultando, após a comemoração, em um trauma que podemos chamar de ‘descomemoração’.
No universo político, embora muitos reconheçam esse efeito, ele não é comum, surgindo de forma isolada, como em comemorações de vitórias eleitorais que, no final, revelam-se derrotas frustrantes e inesperadas. Esse tipo de violência psicológica gera sofrimento e aponta para possíveis saídas que, muitas vezes, trazem novas frustrações e oferecem pouco mais que um apoio instável. O silêncio prevalece em muitos casos, e as poucas palavras ditas sobre o assunto tentam manter uma tranquilidade ilusória.
Quais são os danos à saúde física e mental durante e após o estresse dessa magnitude? Os prejuízos são consideráveis: “A princípio, o que ocorre é uma reação de estresse, ansiedade e culpa em relação ao suposto agressor. No entanto, com o passar do tempo, a pessoa pode desenvolver ansiedade em outros relacionamentos, retraimento social, baixa autoestima e, eventualmente, depressão” (TEODORO, Maycon, psicólogo da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Psicologia – SBP).
Com base nesse panorama, a psicologia forense busca entender onde começam os danos emocionais nas relações humanas — sejam elas familiares, profissionais ou sociais — nas quais o objetivo é causar sofrimento a uma das partes. Críticas maldosas, acusações, xingamentos, ofensas, desprezo, ironia e o uso do silêncio como punição destroem o equilíbrio emocional necessário para uma vida plena, podendo até levar a vítima da ‘descomemoração’ a se tornar agressora, especialmente no contexto familiar.
Os efeitos da ‘descomemoração’ frequentemente se assemelham aos da depressão, manifestando-se como vontade de chorar, anedonia (perda do prazer), ansiedade, medo e desinteresse. Esse conjunto de sensações retira o brilho da vida e intensifica sentimentos de desvalorização e falta de afeto, resultando em uma experiência emocional sem empatia e ressonância afetiva.
Por fim, a ansiedade sentida pela vítima da ‘descomemoração’ é tão intensa que a faz viver em estado de alerta constante, temendo contrariar ou decepcionar-se novamente.
Embora ‘descomemorar’ seja um termo informal, ele é comumente utilizado, especialmente em 1º de abril, para ‘descomemorar’ o golpe militar de 1964, em eventos promovidos por movimentos sociais.
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José Osmir Bertazzoni, advogado, jornalista e escritor piracicabano