A festa de Babette

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

 

A festa de Babette se passa num vilarejo na costa da Noruega, onde, numa noite de tempestade, surge uma francesa misteriosa. Ela bate à porta de duas senhoras puritanas, filhas de um profeta protestante. Fugitiva do massacre à Comuna de Paris em 1871, Babette traz uma carta de recomendação do amigo Papin, cantor de ópera que, muitos anos antes, havia se apaixonado por uma daquelas irmãs de ar gentil, então jovem e bela. Babette oferece seus serviços de cozinheira em troca de abrigo.

Tempos depois, ela ganha na loteria e prepara um suntuoso banquete em homenagem ao pai de suas benfeitoras, que irá transformar para sempre a vida simples e austera do lugar. Conto mais conhecido de Karen Blixen, autora também de A Fazenda Africana, foi levado às telas pelo diretor Gabriel Axel, ganhando o Oscar de filme estrangeiro em 1988.

Essa é a história de A Festa de Babette, conto publicado pelo Sesi-SP Editora e escrito por Karen Blixen. Dividido em dois momentos, entre as histórias que envolvem o passado das duas irmãs com a jornada de Babette, o livro é simples, com apenas 60 páginas. Não tem enrolação, não tem gordura. Afinal, é um conto, que desafia a concisão de autores para ter só o que basta.

As coisas no livro mudam de figura, porém, quando Babette é a vencedora de uma espécie de loteria da região. As irmãs, então, se preparam para sua despedida. É aí que surge o banquete de Babette. The feast. A Festa de Babette. Desafiando ideias pré-concebidas, a protagonista mergulha em sua cultura e em suas memórias, celebrando a vida numa espécie de comunhão.

Blixen, então, cria uma espécie de celebração. Celebra a gastronomia, a memória, as raízes. Mostra como a comida, criadora de memórias olfativas, visuais e gustativas, pode nos transportar para outras épocas, outros lugares, outras vidas. É um livro de celebração, com uma personagem que transcende as páginas e mostra uma força muito característica.

O mais interessante, porém, é refletir sobre a história que foi contada ao virar a última página. A Festa de Babette é um conto: simples, enxuto. Mas, ainda assim, não deixa de emocionar ao falar sobre a comunhão de pessoas e a importância que precisamos dar ao que nos une, contrapondo dogmas religiosos e mostrando que podemos nos unir pelas coisas simples que a vida nos dá.

Menu Harmonizado: A Festa de Babette; Soupe de Tortue Géante (Sopa de Tartaruga Gigante); Blinis Demidoff (creme azedo e caviar, se possível Beluga); Cailles en Sarcophage (codornas com trufas e foie gras); Salade de Crudités (salada de folhas e legumes); Fromages (queijos curados variados).

A festa de Babette é a sua forma de expressão artística. O presente hedonista oferecido às irmãs Philippa e Martina encoraja-as (e aos restantes convidados) a ver um pouco mais além nas suas existências, à medida que constatam o contraste entre a magia e voluptuosidade da festa e as suas existências puritanas. Realmente um excelente livro dinâmico e também um excelente filme que ganhou Oscar, recomendo bom dia.

 

 

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho,  médico.

 

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