Eduardo Simões
Semana passada vimos duas realidades, uma alvissareira e outra fracassada, mostrar progressos no seu deslocamento inverso: a SpaceX de Elon Musk e o Brasil de Lula.
Uma das experiências mais intuitivas que existe é aquela em que se deduz que um foguete, uma vez disparado, nunca retornará ao seu ponto de partida, exceto em caso de acidente ou fracasso no lançamento. Mas esse fim de semana eu vi, em um vídeo, um foguete da empresa de Elon Musk levantar voo, e depois voltar para a mesma rampa de lançamento, com recursos próprios, não tripulado, reinventando a astronáutica, dando um cavalo de pau na nossa intuição essencial do que é um foguete
A percepção, e a consequente definição cultural, do que é um foguete, como nós aprendemos, desde a época em que eram lançados pelos chineses na mais remota antiguidade, está com os dias contados.
Aquela estrutura gigantesca que contém os motores e a maior parte do combustível, que permitirá um veículo de milhares de toneladas, elevar-se a centenas de quilômetros, livrando-se da força da gravidade, e que no passado estava condenado a virar lixo espacial, encarecendo sobremaneira os voos espaciais, poderá agora dar ré, depois de liberar a espaçonave, até a plataforma de lançamento, para ser usada em novas viagens espaciais.
É óbvio, que o que assistimos foi apenas um teste, ainda há muito para aprender e evoluir nessa tecnologia, mas um passo foi dado. E foi incrível! Mas sabem o que mais me alegrou: foi ver uma multidão de jovens entre 20 e trinta anos, que trabalham na SpaceX, curtindo o sucesso do evento. Tão jovens, mas mudando a história da tecnologia aeronáutica, enquanto muitos dos nossos, encurralados por seus professores, buscam mostrar-se bons repetidores de chavões marxistas surrados.
Vi certa vez um especialista em paleogenética, brasileiro, dizer que os portugueses invadiram o Brasil. Se meteu no que não sabe e passou atestado de ignorância.
O que essa tecnologia, se conseguir completar todo o seu ciclo de testes com sucesso, vai baratear as viagens espaciais não se conta! E quem conseguir isso em primeiro lugar sairá com todas as vantagens. Os americanos ainda gozarão por muitos anos a primazia no mundo, se não se destruírem. Em pouco tempo haverá estações de trabalho, fábricas, no espaço, ligadas a diversas empresas, produzindo em condições de gravidade zero produtos e ferramentas que não podem ser feitas aqui, ou não compensam por serem caras demais, em que pese seus benefícios, usando tecnologia made in USA-Musk.
E o cara que está liderando todo esse processo, não tem qualquer formação em astronáutica e só passou a se interessar por esse assunto já adulto. Hoje a SpaceX é uma das quatro entidades mundiais capazes de conseguir trazer um veículo espacial de volta para a terra; as outras três são os Estados Unidos, a Rússia e a China. Como não se espantar com a visão, a coragem para correr riscos e a competência administrativa desse homem?
Mas não fiquemos tristes, pois nós temos também gente muito competente. Por exemplo, os irmãos Batista, que são dois, e, melhor que Musk, dominam a tecnologia de lançar uma determinada quantia de dinheiro nas mãos de certos burocratas ou políticos e os recebem de volta multiplicada várias vezes. É como se Elon Musk lançasse um só foguete e recebessem de volta uma chuva deles. Só nós conhecemos essa técnica.
Agora é uma pena ver que o nosso presidente e a nossa elite política, jurídica, social e econômica o tenham escolhido para inimigo nº 1. Os políticos, porque ele age como se não precisasse deles, um mal exemplo para outros; os juristas, porque ele pede que se cumpra a lei; a elite social, porque as ações dele expõem o que todos procuram esconder, a discriminação racial contra americanos e europeus, além de um secular e mal disfarçado complexo de inferioridade; e econômica, porque todos temem o estrago que empresas dirigidas por empresários como ele podem fazer se vierem a se instalar aqui. Já imaginaram uma economia de mercado, no Brasil, não sustentada pelo estado, sem o amigo do amigo?
O nosso presidente, manifestando o seu discernimento piramidal, disse que não é justo que o pobre pague o mesmo imposto que paga quem recebe uma grande herança. Ele ainda acredita que os ricos do mundo são ricos porque receberam uma herança. Aquela lenda obsessiva, nascida em 1848, de que os ricos herdam a riqueza e ficam mais ricos, enquanto os pobres ficam mais pobres, em que pese todos os fatos em contrário, mas perfeitamente coerente com quem fez o seu programa de governo baseado no de Getúlio Vargas, de 1930.
É só no socialismo, e nos demais sistemas estatistas, que a eternização da riqueza, do prestígio e do poder, e concomitantemente da pobreza, pode se sustentar, acontecendo aquilo que ele condena no capitalismo liberal. Fidel Castro legou o poder e seus privilégios ao seu irmão Raúl, os principais burocratas da União Soviética tornaram-se os oligarcas do período seguinte, o neto de Mao é oficial superior do exército chinês apesar dos evidentes sinais de insuficiência intelectual para a função, na Coreia do Norte existe uma dinastia comunista; etc. E os pobres são os mesmos desde a revolução libertadora.
Ao invés de nos aproximarmos dos países mais livres, desenvolvidos e dinâmicos do planeta, nos enfronhamos, por razões ideológicas do coronel no poder, com as ditaduras que governam sociedades estagnadas, pobres e violentas, atrás de uma ficção batizada pomposamente de Sul Global, no qual só o Brasil aposta todas as fichas e não se vexa em perder bons negócios para os brasileiros, a fim de que o coronel possa sentir-se bem com a sua consciência, já entorpecida por tantas contradições com que é obrigada a conviver, e suas pálpebras fechadas já não se abrem mais, por temor de que a luz o possa cegar.
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Eduardo Simões, professor aposentado.