João Salvador
Existe a expressão “olho por olho”, no sentido de encarar uma situação e resolvê-la de maneira acintosa. Porém, há outras, como a espiada de paquera, do cruzar de olhos que envolve a sedução ou de admiração. Do lado oculto, não perceptivas, os drones, radares e das câmeras de vigilância, instalados em ambientes públicos.
No ponto de vista físico e visual, existe aquela sensação estranha de que alguém está olhando e, ao virar a cabeça, logo vê que não está enganado. Esse fenômeno é conhecido por escopaestesia, mas que a neurociência e a psicologia, ainda não chegaram a um consenso sólido, ficando apenas sobre as evidências da habilidade especial de perceber que os olhares fixos de alguém para alguém sejam de adivinhação ou intuição.
Por outro lado, esta sensação também pode indicar como um sinal constante de alerta, de vigilância, mesmo quando não se presta atenção conscientemente. O cérebro tem capacidade de reagir, automaticamente, a estímulos repentinos ou mudanças de ambiente, deixando claro, o que ocorre em nosso redor. Aliás, essa atenção exógena foi crucial para a sobrevivência da nossa espécie, no período primitivo para escapar de predadores, ainda presente instintivamente nos animais.
Captar pequenos sinais do ambiente, como o movimento dos olhos de outra pessoa, mesmo que não seja conscientemente, nosso cérebro pode ativar a sensação de que estamos sendo observados, através da visão periférica, o chamado “rabo de olho”. Quando há uma manifestação inconsciente, em que alguém move os olhos ou vira a cabeça para nos observar, pode ser um sinal de alerta, por não se saber a devida razão.
O cérebro humano possui uma capacidade incrível de compreender as ações e emoções de outras pessoas, graças aos circuitos cerebrais, no quais os neurônios são ativados, até mesmo quando realizamos uma ação e percebemos que outra pessoa está fazendo o mesmo, sem que haja uma interação combinada. Esses neurônios–espelhos estão fortemente envolvidos na empatia e na interpretação das intenções dos outros, de maneira quase automática. Quando alguém fixa o olhar em você, seu cérebro pode estar processando essa informação, mesmo inconscientemente.
Seja um encarar frente, de lado ou de canto, a verdade é que, à medida que a tecnologia avança, com os instrumentos usuais em mãos, a possibilidade de encontrar facilidade nos mecanismos de espionagem será crescente, com as informações de dados pessoais recolhidas diariamente.
______
João Salvador é biólogo e articulista