Eduardo Simões
Era uma vez um cachorrão, um retriever da América do Norte E-NOR-ME, que buscou um lugar sossegado para tirar uma soneca. Acomodou-se e lá ficou dormindo em paz. Nesse momento chega um garoto, muito mal educado, daqueles que não podem não sê-lo por recomendação de ‘especialista’: “pode traumatizar”, e começou a chutar-lhe as patas, dizendo: “seu m…, seu m…”.
O cachorrão acordou, mudou de lugar, e lá ia o menino atrás: “seu m…, seu m…” O cachorrão então começou a rosnar, e mostrar que estava desconfortável, mas o menino: “seu m…, seu m…” Até que o cachorrão levantou-se num salto, e mordiscou a coxa do menino, sem nem tirar-lhe sangue, e pôs-se a latir furiosamente.
O garoto assustou-se tanto que, dando um grito, caiu no chão e saiu correndo a berrar, já com a bermuda toda suja, “ele me mordeu, ele me mordeu”.
Parece o presidente Lula.
O presidente tem se especializado em alfinetar os americanos e seus aliados ocidentais, mesmo em situações onde ele poderia ficar calado ou fazer críticas mais dosadas. E os americanos só escutando “seu m…, seu m…” Não contente em xingar, resolveu chutar a canela dos americanos e da OTAN, recusando-se a vender, por um bom preço, munição alemã desatualizada, para a Alemanha, a pretexto de que esta iria remetê-la à Ucrânia.
Ora, nós venderíamos a munição para a Alemanha, o que ela ia fazer com a munição é problema dela. Não poderíamos ser acusados de ajudar a Ucrânia, pois apenas estaríamos fazendo um negócio vantajoso para o país, com a Alemanha, que não está em guerra com a Rússia. Lula, ignorando os interesses do Brasil, não vendeu a munição por razões ideológicas pessoais. Nesse caso, o chute nos alemães foi na canela, mas nos brasileiros foi mais acima.
Depois, deu a maior força ao STF para encurralar aqui duas empresas americanas: a X e a Starlink. Lula logo abriu o bocão, sem necessidade, pois era um questão do Judiciário, e, saiu dando entrevistas e marcar posição, e dizer que aqui quem manda somos nós. “Quem ele (Elon Musk) pensa que é?” “Seu m…”
Mas, como arranjar encrenca com o povo mais poderoso do mundo não é o bastante, Lula também procurou ‘rolo’ com o melhor amigo dos Estados Unidos, talvez o único, que além de poderoso é o mais vingativo: Israel.
Começou espinafrando o primeiro-ministro, comparando-o ao pior inimigo da história dos judeus, e não perdeu oportunidade para, contra todas as evidências, a clamar que os judeus estavam praticando um genocídio proposital na Palestina, matando intencionalmente a mulheres e crianças, que não havia uma guerra de defesa, ao mesmo tempo em que se cala vergonhosamente aos crimes de seus amigos Putin e Maduro, além de adular a ditadura teocrática misógina e sanguinária do Irã. Ele que é democrático, feminista e cheio de amor.
A gota d’água, provavelmente, foi a entrevista do nosso ministro da defesa, dizendo que embora uma empresa israelense tenha vencido a licitação para fornecer carros ao Exército Brasileiro, essa compra não é finalizada, por causa do sinal contraditório que isso passaria aos seus aliados do Hamas, do Hezbollah e do Irã. Mais uma vez, os interesses do Brasil são ignorados, para atender aos interesses dos amigos do coronel Lulu, o novo dono do país.
A resposta dos americanos foi rápida e mosaica (olho por olho): da mesma forma que a justiça aqui foi usada para encurralar e humilhar empresas americanas, o judiciário americano desencavou uma questão mal resolvida de corrupção, na licitação dos gripens suecos, que também prejudicou uma empresa americana, e que deviam estar engavetadas, lá, por considerações políticas ao tradicional aliado brasileiro, amigo dos democratas, que por alguma razão resolveu chutar as canelas de quem lhe fazia um favor.
Só que agora a justiça americana encurrala todo um setor estratégico brasileiro, a Aeronáutica, que só receberá esses caças quando a coisa for desenrolada ou negociada, lá nos EUA, e pode criar embaraços ao nosso ‘caro’, e como está caro, presidente, em meio de acusações de corrupção, aqui abafadas pelo STF, mas que agora podem vazar, dos EUA para o resto mundo. Tá virando moda os americanos e o resto do mundo saberem os nossos segredos domésticos antes de nós mesmos, que nem naquele tipo de marido…
Imaginem se a Lava Jato ressurge nos Estados Unidos! Como nossos Supremos Trapalhões Federais poderão engavetar esse processo? Enquanto isso o Presidente vai à mídia, todo explicativo e humilde, como um menino assustado: reclamar dos americanos e maltratar o léxico: “são hegemonistas!”, “é intromissão nos assuntos de outro país”, mas logo baixa a crista “eu não quero acusar ninguém”, “vamos ver que explicações eles pediram”. Vejam resumo em – https://www.youtube.com/watch?v=_YghNl6T_rg
Cadê a indignação? Agora que é hora de falar grosso virou soprano? A não ser que ele saiba, que os americanos sabem de alguma coisa, que não deveriam saber, enquanto nós, que deveríamos saber, não sabemos, mas poderemos vir a saber, e que se soubermos não quereremos mais saber dele.
Os americanos podem oferecer aos suecos, como compensação, vantagens superiores às do Brasil, se eles abrirem a sua caixa de pandora desse acordo, ao mesmo tempo em que a Suécia agora faz parte da OTAN, logo deve se perfilar com seus aliados, contra os que lhes chutam as canelas.
Só existem duas saídas: a primeira é seguir o bordão do Nazareno (Chico Anísio): “CA-LA-DO!”, e pisar com cuidado para não tropeçar no próprio rabo, e a outra é declarar logo guerra, ao mesmo tempo, aos Estados Unidos e a Israel, desferindo um ataque repentino e mortal, com a Esquadrilha da Fumaça, com o cano de descarga mais trancado que cofre de banco.
Lá vai a locomotiva movida a álcool desse governo, se arrastando e gemendo, pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi!
ADENDO
O escândalo de corrupção que o Judiciário americano resgata, foi investigado no Brasil pela PF, no âmbito da chamada Operação Zelotes, deflagrada em 2015, e que investigava um esquema de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e associação criminosa, ligado ao esquema fraudulento que se formou para dirigir o resultado da licitação. O presidente é acusado de fazer pressão, à revelia dos dados técnicos, pelos suecos. Não há registro de dinheiro indo para a sua conta, mas um de seus filhos recebeu 2,5 milhões de reais de um empresário do esquema – filho caçula também tem direito a uma ‘parte’. Em 2017, o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra o presidente a esse respeito, mas em 2022 o processo foi engavetado por falta de provas, facilitou-o o fato de tramitar em segredo de justiça – o povo não sabe o que está lá. Adivinhem quem o engavetou? Foi ele. Esse mesmo, o que agora é Ministro da Justiça do governo, hum, hum, afinal Amor com amor se paga.
Moral da história: é melhor não pisar muito nos calos que não são seus.
_____
Eduardo Simões, professor aposentado