Rio Piracicaba – Introdução inadequada de peixes pode agravar desequilíbrio, alerta APqC

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) manifestou preocupação com a introdução de peixes no Rio Piracicaba sem a realização de estudos que orientem a prática. Segundo a entidade, que representa cientistas de 16 Institutos Públicos de Pesquisa, como o Instituto de Pesca, a estocagem de peixes, sem análise prévia das espécies e de suas características genéticas, pode causar graves impactos à biodiversidade aquática local.

“Apesar de ser uma estratégia amplamente utilizada no Brasil, a adoção descontrolada e sem o devido monitoramento pode resultar em sérias consequências para os ecossistemas aquáticos”, alertou Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. A preocupação aumentou após um vazamento de resíduos em julho deste ano, causado por uma usina sucroenergética, que, de acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), provocou a morte de dezenas de milhares de peixes e pode ter comprometido o período de reprodução das espécies nativas, conhecido como piracema.

Na última sexta-feira (4), a prefeitura de Piracicaba, em parceria com a AES Brasil, realizou a soltura de 95 mil alevinos de Pacu-guaçu, uma espécie nativa, mas historicamente pouco abundante na área. De acordo com o professor doutor Fernando Carvalho, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e a pesquisadora Paula Gênova, do Instituto de Pesca, é necessário cautela, pois a introdução de peixes geneticamente homogeneizados pode comprometer as características adaptativas das populações selvagens, essenciais para a sobrevivência no ambiente natural.

A APqC destaca que no Brasil, práticas de estocagem de peixes em reservatórios, como a introdução de espécies não-nativas no Sudeste e Sul, já demonstraram efeitos negativos, levando à colonização por espécies exóticas, como Tilápia-do-nilo e Tucunarés, que alteraram a dinâmica dos ecossistemas e, em muitos casos, não cumpriram o objetivo de aumentar a produção pesqueira.

“É fundamental que qualquer estocagem seja precedida de avaliações detalhadas e que as ações sejam acompanhadas por monitoramento contínuo para evitar a perda de biodiversidade e assegurar a sustentabilidade da pesca e da conservação dos ecossistemas”, reforçou Lutgens, baseando-se em estudo recente sobre o tema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima