Dirceu Cardoso Gonçalves
Dificilmente se encontrará nas disputas das últimas décadas – tanto em São Paulo quanto nas demais localidades – eleições tão apertadas quanto foi o primeiro turno para a Prefeitura paulista nesse domingo (06/10). O prefeito Ricardo Nunes (MDB) recebeu 29,48% dos votos válidos, o desafiante Guilherme Boulos (PSOL) 29,07% e o inquieto influenciador digital Pablo Marçal (PRTB) obteve, 28,14%.
Os dois primeiros farão o segundo turno no próximo dia 27, trazendo para a nossa metrópole a voraz polarização direita/esquerda entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva. O ex e o atual presidente deverão aqui descer de mala e cuia com o propósito de fazer pelos seus aliados aquilo que não conseguiram no embate inicial. Poderá ser, até uma prévia da luta prevista para 2026, onde Lula pretende concorrer ao quarto mandato presidencial e Bolsonaro tudo fará para revogar sua inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também disputar o posto.
A grande novidade – é preciso reconhecer – não reside nos dois finalistas. Mesmo não tendo chegado ao objetivo, Pablo Marçal inovou, apresentando meios eficazes de fazer campanha pelas redes sociais, seu principal trunfo. Mesmo não arrebatando o mandato de prefeito da maior cidade de América Latina, poderá fazer uma boa renda ministrando, a futuros candidatos, cursos ou instruções sobre como atrair o eleitorado através da internet e de seus aplicativos. Afinal, já deu mostras de que isso é possível. Evidente que, por razões óbvias, deverá evitar provocações e outras atitudes que conduza m à indisposição com adversários e principalmente com as autoridades e as leis.
Marçal viveu duas aventuras políticas antes de surgir candidato à Prefeitura de São Paulo. Em 2022, candidatou-se à Presidência da República pelo PROS, onde foi preterido pela direção do partido que optou por apoiar Lula. Em represália, trabalhou por Jair Bolsonaro e, ainda, lançou-se candidato a deputado federal pela bancada de São Paulo, obteve 243 mil votos, mas não se elegeu porque teve a postulação impugnada por liminar do então ministro Ricardo Lewandowiski, do TSE.
Os feitos eleitorais de Marçal – 243 mil votos para deputado federal e 28,14% dos votos de primeiro turno para prefeito de São Paulo – gostem ou não seus concorrentes e desafetos, constituem importante patrimônio para a alavancagem da candidatura a presidente da República que já declarou ser sua meta futura. Preparem-se todos para novas emoções.
O ocorrido em São Paulo é mais do que três concorrentes chegarem a quase 30% dos votos. Pablo Marsal e Guilherme Boulos demonstraram à classe política quem bem estruturado, o candidato não precisa de partido e nem de horário eleitoral gratuito para atrair o eleitorado. É um flagrante quebra de paradigma eleitoral que, sem qualquer dúvida, poderá provocar, nas eleições de2026 e posteriores, a grande revoada dos políticos autônomos e a falência da estrutura partidária que até agora foi a dona de todo o processo. Com esses dois exemplos, onde o partido serviu apenas de cartório para o registro das candidaturas e o que influenciou verdadeiramente foi a movimentação e as ações dos candidatos, há a possibilidade (ou até risco) de, nas próximas eleições, surgirem dezenas (talvez até centenas) de candidatos autônomos, que se valerão exclusivamente do próprio prestígio.
Dessa forma, veremos postulantes aos governos estaduais, Senado, Câmara, Assembleia e, possivelmente, até à presidência da República. Seria o novo tempo surgindo imbatível na política nacional? A valorização do candidato e a degringola dos partidos? Quem viver verá a grande e provável avalanche política, ideológica e social…
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) [email protected]