#FALAPAULOSOARES – Saúde dos adolescentes: um desafio ignorado

Os adolescentes e jovens desempenham um papel crucial para o futuro de nossas sociedades. Entretanto, as necessidades de saúde desse grupo são frequentemente negligenciadas. Por serem vistos como um subconjunto geralmente saudável da população, há uma perigosa tendência de ignorar os cuidados preventivos e educativos que poderiam preparar esses jovens para uma vida adulta mais saudável e produtiva.

Ao abordar a saúde do adolescente, nos deparamos com um paradoxo: apesar de sua aparente boa saúde, esse grupo enfrenta uma série de riscos que podem impactar seu futuro. Muitos hábitos prejudiciais, como o tabagismo e o sedentarismo, são adquiridos na adolescência e, se não forem combatidos desde cedo, se transformam em sérios problemas na fase adulta. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares, frequentemente têm raízes em comportamentos iniciados na juventude.

A negligência quanto à saúde dos adolescentes tem um custo. Não só para o sistema de saúde, que acaba absorvendo o ônus financeiro desses problemas na idade adulta, mas também para a sociedade como um todo. Jovens saudáveis têm maior capacidade de contribuir de forma produtiva para suas comunidades e para o crescimento econômico. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconhecem essa realidade, destacando a proteção da saúde dos adolescentes como uma prioridade.

FATORES CRÍTICOS – Dois dos maiores desafios para a saúde do adolescente são a violência juvenil e a gravidez precoce. A violência juvenil é um problema de saúde pública global que se manifesta de várias formas, desde o bullying nas escolas até crimes mais graves, como agressões físicas e sexuais. Além de ameaçar a integridade física, a violência tem um impacto profundo na saúde mental dos adolescentes, muitas vezes resultando em transtornos de ansiedade e depressão.

A gravidez na adolescência, por sua vez, permanece como uma das principais causas de mortalidade materna e infantil e perpetua ciclos de pobreza. Adolescentes grávidas, em sua maioria de camadas sociais mais vulneráveis, enfrentam desafios adicionais que afetam tanto sua saúde quanto a de seus filhos. Esse problema é agravado pela falta de acesso a serviços de saúde adequados e pela desinformação sobre métodos contraceptivos.

RESPOSTA INTERNACIONAL – Diante desses desafios, a OPAS adotou o Plano de Ação para a Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente 2018-2030, que visa combater as iniquidades de saúde nesse grupo. O plano destaca a importância de criar políticas públicas transformadoras, ampliar o acesso a serviços de saúde integrados e fortalecer os sistemas de informação para monitorar e avaliar o progresso.

A resposta internacional, no entanto, só será efetiva se for acompanhada por políticas nacionais e regionais que levem em conta as particularidades dos diferentes grupos socioeconômicos. Adolescentes de áreas rurais, afrodescendentes, indígenas e com baixa escolaridade continuam sendo os mais afetados pela morbimortalidade evitável. Portanto, é essencial que governos e instituições se comprometam com uma abordagem inclusiva e equitativa.

EDUCAR PARA PREVENIR – O caminho para garantir um futuro saudável para os adolescentes começa pela educação. A promoção de hábitos saudáveis, o incentivo à atividade física, a conscientização sobre os perigos do tabaco e do álcool, além da educação sexual, são ferramentas fundamentais para preparar essa população para uma vida adulta mais plena. Adotar uma estratégia proativa que promova o envelhecimento saudável pode evitar não apenas o surgimento de doenças crônicas, mas também aliviar o peso sobre os sistemas de saúde, garantindo uma sociedade mais forte e resiliente.

É hora de reconhecer que a saúde dos adolescentes é uma prioridade. Ao investir em sua saúde física, mental e emocional, estamos investindo no futuro de nossas sociedades. Afinal, adolescentes saudáveis são adultos preparados para enfrentar os desafios de amanhã.

 

Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV, Aids, Sífilis e Hepatites Virais).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima