É possível fugir de nosso carma?

Alvaro Vargas

 

A palavra carma tem sua origem na Índia, sendo utilizada pelo hinduísmo, budismo e jainismo, para explicar as consequências de do nosso livre-arbítrio com relação a nossas atitudes, pensamentos e comentários que realizamos. Essas religiões assumem que o Espírito é imortal, reencarnando inúmeras vezes, de modo que cada ação praticada, edificante ou criminosa, fica registrada na alma e poderá ter um efeito nesta existência ou em futuras reencarnações. Embora o Espiritismo possua esses mesmos dogmas, o termo carma não faz parte da sua doutrina, conforme foi codificada por Allan Kardec, que utiliza o conceito da lei de ação e reação. Entretanto, a expressão carma vulgarizou-se no meio espírita, junto com o conceito de causa e efeito, na qual quem pratica o mal recebe os seus efeitos, em idêntica proporção, numa demonstração da justiça divina, visto que embora exista injustiça na Terra, pelo mecanismo reencarnatório, não existem injustiçados.

Como exemplo, podemos citar o episódio ocorrido com João Batista, primo de Jesus e o seu percussor, sendo executado a mando do rei Herodes (Marcos, 6:14-29). Em reencarnação anterior, segundo informações de Jesus, ele foi o profeta Elias (Mateus, 17:10-13), que mandou degolar 450 sacerdotes de Baal. Segundo a lei de ação e reação, ele como João Batista, 850 anos depois, é também degolado. Contudo, essa questão não pode ser analisada de forma superficial e precipitada. A ação enérgica de Elias visava preservar os ensinamentos de Moisés. O seu excesso de zelo o levou a uma medida extrema, a seu modo, para defender o código de justiça hebraico. Na opinião do saudoso médium Chico Xavier, caso João Batista tivesse demonstrado mais caridade em relação à conduta imoral do rei Herodes, evitando criticá-lo publicamente, possivelmente poderia ter o seu carma abrandado (NOBRE, M. Lições de Sabedoria, cap. 25). Por isso, diferentemente das religiões orientais, mesmo que possamos trazer as marcas de nossas iniquidades em nosso Espírito imortal, que nos acompanham como uma sombra e seja impossível fugir de suas consequências, o Espiritismo esclarece que podemos atenuar os efeitos negativos das ações pretéritas, através da caridade. Nessa interpretação, não existe um fatalismo cármico, no sentido de vivenciar a mesma experiência proporcionada as nossas vítimas. Tudo depende de nossas ações, atualmente, atenuando ou agravando o nosso carma.

Geralmente, aqueles que transgredem as leis morais da vida permanecem nas regiões pantanosas do Umbral, o tempo necessário para expelir as energias negativas que acumularam em sua alma, até recobrarem a razão e se arrependerem dos seus crimes, pois, não existem crimes sem possibilidade de remissão. Como danificaram a mente espiritual pelas ações no mal, a maioria não consegue sequer estabelecer um raciocínio lógico e compreender o estado deplorável em que se encontram. Devido ao apego ao mundo material, sentem os mesmos apelos da antiga vestimenta física que deixaram no túmulo, como dores relacionadas com a sua desencarnação, fome e frio. Contudo, invariavelmente, todos são recolhidos, e após serem atendidos e compreenderem a situação em que se encontram, aceitam regressar à Terra, vivenciando as mesmas situações que provocaram às suas vítimas. Posteriormente, regressam quantas vezes necessárias, para realizar a reparação à sociedade pelos danos que causaram direta ou indiretamente pelas suas ações, libertando-se do carma doloroso que criaram. Entretanto, para todos aqueles que já se conduzem na Terra nos princípios éticos de justiça e fraternidade, independentemente de serem ateus, materialista ou professarem alguma religião, a justiça divina se faz presente, atenuando as dificuldades inerentes às experiências terrenas, e proporcionando a reencarnação em locais mais condizentes com o seu nível evolutivo.

 

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, PhD, presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

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