O “Gastão” e o “Unha de Fome”

Walter Naime

 

Nos meandros da vida, dois personagens contrastantes desempenham papéis que refletem não apenas suas atitudes financeiras, mas também aspectos mais profundos de suas almas: o Gastão e o Unha de Fome. Enquanto o primeiro esbanja aquilo que tem, o segundo reluta em compartilhar ou gastar seus recursos, guardando-os como um tesouro intocável.

Essas duas posturas extremas, embora distintas, encontram raízes profundas alicerçadas nos quatro gigantes da alma: amor, ira, dever e, principalmente, medo. É este último que exerce a maior influência, impulsionando cada um dos protagonistas para suas respectivas condutas.

No centro dessa reflexão está o pão, alimento essencial que, quando não consumido, inevitavelmente endurece. A metáfora do pão amanhecido se estende para aqueles que resistem em gastar, optando por acumular riquezas em detrimento da própria qualidade de vida.

Assim como existem diversas qualidades de pão para atender aos diferentes paladares, há também variadas abordagens em relação ao dinheiro ao longo da história. Desde os tempos antigos até os dias atuais, o Pão Duro e o Gastão acabam, de uma forma ou de outra, perdendo.

As perdas, sejam elas materiais ou morais, são inerentes tanto ao “pãodurismo” quanto ao “esbanjionismo”. Ambas as características são frequentemente vistas pela sociedade como negativas, dando origem a uma infinidade de piadas que refletem o humor ácido em relação a esses comportamentos.

Uma das piadas clássicas é a do pão duro que, ao sair do restaurante, oferece uma pedra de gelo ao garçom como gorjeta para tomar um uísque. Outras envolvem situações absurdas de avareza, como o miserável que se recusa a usar um martelo e prefere pedir emprestado, mesmo quando está disponível em sua própria casa, ou do munheca que, ao ouvir alguém bater à porta e dizer: uma esmolinha por favor! Responde: pode colocar por baixo da porta. Temos ainda, o caso de um menino que, ao pedir para alguém pagar um salgado, ouve a frase do mão de vaca: não porque depois você não almoça! E o caso daquele que, indo ao cabeleireiro, pede para não repartir o cabelo pois não gosta de dividir nada, além daquele que quer ganhar na loteria mas não gasta na aposta.

No entanto, é importante lembrar que tanto o pão duro quanto o gastão enfrentam consequências negativas. Enquanto o mesquinho morre por se recusar a gastar dinheiro com remédios, o segundo pode se encontrar sem nada ao final da vida, tendo distribuído sua riqueza de forma inconsequente.

Diante desses extremos, a sabedoria popular sugere o caminho do meio. Não cair na armadilha do desperdício desenfreado nem na prisão da avareza, mas encontrar um equilíbrio saudável entre gastar e poupar, compartilhar e preservar.

Em última análise, ao refletir sobre esses comportamentos, surge a pergunta inevitável: seria melhor um governo gastão ou pão duro? A resposta reside na busca por uma gestão responsável e equilibrada dos recursos públicos, que promova o bem-estar coletivo sem comprometer a sustentabilidade financeira a longo prazo. Este é o sábio caminho do meio!

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Walter Naime, qrquiteto-urbanista, empresário.

 

 

 

 

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