Alvaro Vargas
Na visão espírita, evoluímos através das reencarnações, submetidos à Lei de causa e feito, em que o abuso de nosso livre arbítrio, pode nos levar a vivenciar as experiências amargas que proporcionarmos aos nossos irmãos em humanidade. Assim, ao tomarmos consciência da possibilidade de evitar as expiações dolorosas, direcionamos a nossa atenção para a conquista dos valores morais, através da reforma íntima, evitando recalcitrar no erro e provocar sofrimento desnecessário. Esta é uma decisão sensata, pois, além de atenuar as dificuldades das experiências terrenas inerentes a um mundo de provas e expiações, podemos superar antes os instintos animais, evoluindo intelecto moralmente, para assim, podermos reencarnar em mundos mais evoluídos. Contudo, embora todos os Espíritos sempre evoluam, o tempo difere para cada um, pois, isto depende das escolhas que são realizadas. Muitos optam por permanecer estagnados por milênios, num ciclo expiatório doloroso, repetindo reiteradamente os mesmos equívocos. Felizmente, eventualmente todos os retardatários também despertam, iniciando o processo de autoconhecimento, necessário para o reconhecimento das falhas morais, modificando a sua conduta.
Embora antes de regressar ao plano material, muitos Espíritos estejam conscientes da necessidade de realizar a transformação moral, o manto do esquecimento provisório, imposto pelos mentores espirituais durante a reencarnação na Terra, impede a recordação das existências pregressas e limita a percepção dos objetivos que foram delineados na erraticidade. Esta medida é necessária, visando facilitar o reencontro de antigos inimigos do passado, de modo que se reconciliem e façam as reparações necessárias. Entretanto, mesmo sem recordar as nossas reencarnações, a alma sente a influência das suas experiências, manifestada pelas atitudes que tomamos, devido aos condicionamentos mentais, construídos ao longo dos milênios; na verdade, a nossa conduta reflete o que realmente somos e que geralmente desconhecemos. Porém, esta é uma oportunidade valiosa de revelarmos a nossa verdadeira personalidade, particularmente durante os estresses que comumente ocorrem na vida terrena. Analisando o comportamento humano, Jesus esclareceu que “cada árvore é conhecida pelos frutos que produz” (Lucas, 6:44), e Allan Kardec considera que “o Espírito prova a sua elevação quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando compreende antecipadamente a vida espiritual” (O Livro dos Espíritos. Q-918). Contudo, não existe um fatalismo, pois, ao serem enfrentas as experiências terrenas, todos podem evitar a repetição dos equívocos pregressos, desde que exista um interesse real em superar as suas limitações morais.
Mesmo que as religiões desempenhem um papel relevante na moralização da sociedade, nem sempre os indivíduos estão dispostos a modificar os seus hábitos. Segundo o espírito Emmanuel (XAVIER, F. C. Caminho, verdade e vida, cap.18), “o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece. Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes. Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício”. Numa antiga inscrição no pátio do Templo de Apolo em Delfos, na Grécia, dizia: “conhece a ti mesmo”. Realmente, é mais fácil avaliar e julgar os outros do que a si próprio. Por isso, Jesus nos orientou a desenvolver uma autocrítica: “por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?” (Mateus, 7:3); e, Allan Kardec esclarece que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 17, item 4).
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-PhD, presidente da USE Regional Piracicaba, palestrante espírita