O cavalo no telhado

Camilo Irineu Quartarollo

Onde nossos olhos pastavam só há água e destruição. Já na maior enchente até então, em 1941, encetaram-se obras de engenharia de barragens para deter o caos, mas agora o cavalo subiu no telhado. O marco da maior cheia por lá era 1941, um nível limítrofe das comportas de contenção. Assim, para esse marco, começou a se fazer um Complexo eficiente de proteção, com o custo de mais de um bilhão de dólares. Tal Complexo composto por diques, por casas de bombas, pelo muro da Mauá, por comportas de superfície e de gravidade e pela estrutura predial da Usina do Gasômetro. Na cobertura exaustiva da TV vemos referências locais e valem por um curso rápido de Geografia, da bacia hidrográfica e do relevo do Sul numa peleja contra El Niño.

Carlos Atilio Todeschini, ex-diretor da Conservação do DEP (dep. de esgotos fluviais) e dir. do DMAE (dep. municipal de água e esgotos) em Porto alegre, afirma que a cidade tem o melhor sistema de proteção contra Cheias do Brasil.

Contudo, apesar das obras de engenharia e inteligência, essas não se mantêm por si só, tem de haver manutenções periódicas e integradas. Claro que sacos de areia ou gambiarras na hora do desespero de pouco valem. Londres, com sua enorme barreira anti-inundação no rio Tâmisa e a segunda maior do mundo, já refaz planos para uma manutenção bilionária. A Holanda não existiria sem as barragens caríssimas que tem, e lá a manutenção é constante e eficiente.

Todeschini afirma que o colapso de Porto Alegre se deve a que os serviços básicos de manutenção não foram executados e, pelo menos, duas comportas não resistiram à pressão das águas. Essas corroídas pela ferrugem, emperradas – sem graxa necessária e pintura, a ponto de uma delas, da região central, ter de ser acionada pela tração motora de uma máquina retroescavadeira.

Esse antigo gestor revela que a manutenção é cara, geralmente feita por serviços de mergulho e altamente especializados – ressaltando que esse problema de manutenção já tinha se evidenciado na enchente recente, de 2023.

O governo do Sul alterou 480 pontos da Lei Ambiental do Estado, para conciliar com o poder econômico influente. O Congresso nacional votará projeto para liberar, reduzir áreas de proteção ambiental, desmatar a Amazônia, num tamanho próximo ao do Estado do Rio Grande do Sul. Os negacionistas acham que nada os afetará, que a boiada passará incólume, que Crise ambiental são coisas da Pirralha e dos Ecochatos. Porém, no rio Amazonas, os botos já morrem e se veem barcos virados no leito seco. Bem se vê a degradação que se fazem nas florestas, pois o belo Pantanal, pântano em períodos de cheia, seco, evidenciando o rebuliço provocado pelo Efeito Estufa que nos cozinha. Não sei como estaremos em 2025, é sério, mais 2 graus e babau! O mal que afeta o Sul afetará o Sudeste em breve.

A COP 30 se fará no Pará no ano que vem, mas a Crise vem a cavalo!

 

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros e do livro Contos inacreditáveis da Vida adulta

 

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