Fermino Neto
Quando o orador pensa e fala bem
Precisamos refletir muito sobre as vantagens e desvantagens da era digital em função da identidade humana e da ética. As qualidades e habilidades de uma pessoa jamais serão substituídas por uma máquina. Escreva ai.
No domingo à noite visitei a Igreja do Nazareno no bairro de Água Santa, liderada pelo grande pregador e querido amigo, pastor Saulo S. Jardim. Foi reconfortante para mim que ele tenha relembrado no púlpito o primeiro curso de oratória que eu dei na Pinacoteca, do qual ele foi um dos alunos que mais entusiasmo demonstrou.
Naquele tempo feliz a Pinacoteca era dirigida pela insigne Cláudia Woltszenlogel Paleo, o secretário de Cultura, o inesquecível dr Carlos Roberto Hoppe Fortinguerra, que até prefaciou o meu primeiro livro de oratória lançado no Engenho Central. O prefeito, Mendes Thame.
Quando você já segue adiantado em idade e aparece um jovem como o pastor Saulo relembrando os seus feitos como profissional, você até recebe uma dose de vitamina emocional e se autoriza a erguer a fronte novamente, movido pelo desejo de semear novas sementes.
Melhor de tudo foi ver e ouvir o sermão dele, com tudo em cima e dizendo ao povo:
– Se alguém acha que eu sei falar em público, devo ao Fermino.
Claro que tem mais feijão nessa água; ele sempre foi muito inteligente, esforçado e colocou muita vontade de ser quem é. A minha parte é real, inxalá, como é a parte de qualquer professor nessa terra, indicar o caminho e mostrar a estreiteza dele. Mas, que a pregação teve pé e cabeça, teve. Obedeceu a mensagem de começo, meio e fim. E Deus seja louvado. O homem prepara muito, o que vai dizer e como vai dizer a fala no púlpito. É um exemplo de grande orador sacro, além de referência moral com autoridade para enfatizar a doutrina que enfatiza.
Ele falou muita coisa atual, que atinge de cheio a vida mental das famílias. Ressaltou a coisa mais importante não apenas do orador, mas de toda pessoa, o poder de escolher ser quem é, de fazer o que quiser dentro e fora da internet. O tema da pregação? “Uma vida com propósito”.
Deixou claro o quanto, além do poder da escolha, precisa haver clareza no que escolheu. Nós somos fruto de nossas escolhas e a nossa vida é consequência delas. Por isso insistiu no autoconhecimento como valorização da própria vida e a identidade pessoal como fonte de paz na jornada do caminho para Deus, começo, meio e fim de todos os propósitos.
Gostei quando salientou a importância de se aprender a raciocinar, ponto fundamental num curso de oratória. Por ser tradicional nas coisas essenciais e moderno naquilo que não prejudica, estabeleço no curso de oratória hoje em dia uma relação com a inteligência artificial e o uso exacerbado dos recursos da vida virtual.
Pessoas acessam de tudo o tempo todo, em segundos tudo vira descarte, lixo. Para ganhar conhecimento é preciso focar a atenção, refletir com profundidade e a vida fugaz em que metemos os nossos jovens pode levar todos eles a correrem atrás do vento, como dizia o rie Salomão. Correr sem pensar, sem sentir, sem expressar a verdade interior numa busca insana por algo que está sempre no próximo iphone, no próximo computador ou carro veloz a ser lançado, quando não, na próxima pessoa a preencher o vazio de um coração que nunca se preenche.
Tudo isso, em resumo, ele falou em função do ser pessoa, de escolher a Deus a partir do próprio Deus e não amá-lo só nas contingências como se fosse um dispensário sozinho sem a nossa participação.
A oratória moderna é tudo isso, E quando você vai ao microfone, dirige uma reunião, envia uma mensagem, atende a ligação, ou liga uma câmera para falar aos outros, você não conseguirá se não tiver um proposito claro e habilidade de saber o que vai dizer e como vai dizer. É preciso ter conteúdo próprio, a inteligência artificial nem hoje nem nunca fará tudo sozinha. Deus colocou você como protagonista de sua vida, não adianta se esconder nas ilusões do subterfugio.
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Fermino Neto, professor