Prof. Adelino Francisco de Oliveira
Professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba
Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião
Às vezes é preciso um choque, um alerta, como se diz, para não se desviar do caminho, nem se perder diante dos acordos mais pragmáticos. A greve dos servidores públicos da educação federal, sob a liderança do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), tem primeiro esse grande objetivo: disputar os rumos do governo democrático e popular, que foi eleito para suplantar o projeto político do ultraliberalismo neofascista. As forças econômicas do mercado têm atuado para impor seus interesses. A mobilização grevista é o recurso, a estratégia mais legítima da classe trabalhadora da educação federal, de forma a tornarem públicas suas pautas, dando-lhes lugar e visibilidade.
Importante ressaltar que essa greve não é contra o governo do presidente Lula. Fato que setores da educação pública militaram com todas as suas possibilidades para o eleger. A greve se levanta em defesa da educação pública federal, gratuita e socialmente referenciada. Sabido que o governo anterior detratou e atacou a educação pública federal, atuando cotidianamente para destruí-la. Todos sabem, é público e notório: este foi o governo Bolsonaro. No decurso dos dramáticos quatro anos do governo da morte, o projeto do Instituto Federal se manteve vivo, mas foi por um triz. Mesmo naquele contexto autoritário do governo Bolsonaro os servidores do Instituto Federal não se acovardaram, atuando na defesa da vida, reivindicando a utilização de máscaras, de álcool gel, defendendo o direito ao isolamento social e o acesso à vacina. A luta era contra a pandemia! Agora é imprescindível recuperar o que foi destruído. Se a educação pública federal não avançar nesse contexto de reconstrução democrática, sob o governo do presidente Lula, ela não terá mais um lugar no futuro. Por isso a urgência da greve!
A educação é a base para a construção de um novo tempo social e político para o Brasil. A ameaça ultraliberal neofascista, derrotada nas urnas, continua à espreita, espalhando, via redes sociais, por meio da produção sistemática de fake news, a cizânia do caos e ódio social. Cabe à educação, particularmente à educação pública, formar para a ética, apontando para o supremo valor da democracia, da cidadania política, dos direitos humanos e da justiça social e ambiental. O obscurantismo da ideologia neofascista só será suplantado por meio de um vasto processo de formação cidadã, envolvendo a sociedade em seu conjunto.
Para isso é fundamental e urgente se recuperar e fortalecer o genuíno projeto do Instituto Federal, que traz a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão desde a formação básica, abrindo para os discentes as possibilidades de construção de um conhecimento técnico, ético e também político, tão necessário para uma inserção qualificada no mundo do trabalho, de maneira a proporcionar condições objetivas para que esse discente tenha um lugar e seja, ao mesmo tempo, um interlocutor e protagonista das mudanças que a sociedade tanto almeja.
A greve dos servidores da educação pública federal traz então muitas pautas de luta: reposição de perdas salariais em decorrência de anos acumulados de inflação e arroxo; reestruturação das carreiras dos servidores; abertura de concurso público para recomposição de quadro de servidores; revisão do orçamento do Instituto Federal, há muito defasado, impedindo o pleno desenvolvimento de cada unidade; revogação de decretos promulgados ao longo do governo Bolsonaro, que se colocam em franca dissonância com o projeto original do Instituto Federal; reivindicações advindas do território, identificadas a partir da realidade e contexto de cada câmpus do Instituto Federal.
Essa é uma greve de movimento, mobilizando a comunidade interna e externa para as pautas urgentes de luta do Instituto Federal, por meio do debate público nas redes sociais e também mediante ações presenciais, que carregam dimensões formativas e culturais. A greve não se restringe apenas à pauta econômica: diz respeito a um processo formativo, de reflexão e construção de novos projetos. A dialética da greve dos servidores públicos federais da educação tem como síntese a classe trabalhadora organizada e mobilizada, pronta para defender a democracia, reivindicando os direitos fundamentais de cidadania. Toda luta por direitos leva ao fortalecimento da democracia, expandindo o senso de cidadania. É greve, porque é grave!