Marcos Inforçato
A Campanha da Fraternidade nasceu em 1962, na cidade de Natal (RN), por iniciativa do bispo brasileiro dom Eugenio Sales, com o objetivo de evangelizar e de cumprir o dever de ajudar ao próximo. A campanha juntava dinheiro das pessoas de sua diocese e destinava-os para projetos sociais específicos.
Neste ano de 2024, a Campanha da Fraternidade traz consigo o importante tema: ”fraternidade e amizade social” e tem como lema “vós sois todos irmãos e irmãs’’, baseado na passagem do evangelho de Matheus capítulo 23, versículo 8. Ela surge em um difícil momento de relacionamento entre as pessoas, inclusive parentes, amigos e até entre países, como as guerras entre a Rússia e a Ucrânia.
O Papa Francisco publicou a encíclica em outubro de 2020, na qual apresenta “seu projeto de fraternidade baseado na amizade social e no amor político, tendo o diálogo como caminho necessário para a cultura do encontro”. Ele inspirou-se em Francisco de Assis que, como um “irmão universal”, contribuiu com a Igreja e com a sociedade de seu tempo para entender a “fraternidade e a amizade social”.
“Amizade social?’’ até pode parecer um termo redundante, mas não é. Foi isso que a encíclica “Fratelii Tutti” mostrou, porque amizade social é o amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço. Amizade social é uma fraternidade aberta que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física.
A amizade social é um amor desejoso de abraçar a todos. Amizade social é comunicar-se com a vida, com o amor de deus, recusando doutrinas por meio de uma guerra dialética. Amizade social é viver livre de todo o desejo de domínio sobre o outro. Amizade social é o amor que se estende para além das fronteiras. Amizade social é o amor que rompe as cadeias que nos isolam e nos separam, lançando pontes, é o amor que nos permite construir uma grande família na qual todos nós podemos nos sentirmos em casa, embora se encontre perto de mim…
É preciso que a ação nos provoque o debate, nos mude a visão social e nos faça entender que muitas pessoas são deixadas de lado e pagam o preço de uma sociedade que não é motivada a trabalhar o acolhimento de todos.
A figura pública tem o dever de encorajar a criação de leis que abram oportunidades e que preparem os ambientes a receber a todos de maneira digna e adequada. É preciso colocar em pauta para toda a sociedade, começando nas escolas, onde formamos os futuros cidadãos. O amor social tem que ser espalhado para todos os cantos, para que deixe de ser o projeto do Papa Francisco e seja o projeto do mundo.
A campanha é importante e seu tema, além de profundo, vem em boa hora. Vivemos há muitos anos no Brasil uma polarização, que nos separou de forma bruta e repentina. Pessoas cortaram relações com vizinhos, colegas e até familiares por conta de discordância em temas e opiniões. Países entraram em guerra pela falta de diálogo.
Que esse período de reflexão nos permita aumentar o círculo social, que possamos nos ver antes de tudo como irmãos em Cristo, porque estamos no mesmo barco. Por mais que haja pontos em divergências, precisamos agir em conjunto para que não percamos nosso norte e acabemos afundando como sociedade.
Termino este artigo um trecho da encíclica papal: “É a característica de um encontro humano, e um paradigma de atitude receptiva. São Francisco de Assis ‘escutou a voz de Deus’, escutou a voz dos pobres, escutou a voz do enfermo, escutou a voz da natureza. E transformou tudo isso em um estilo de vida. Desejo que a semente de São Francisco cresça em muitos corações”.
Marcos Inforçato, contador e corretor de imóveis