A escolha consciente da solitária vida de João

Gregório José

Ser solitário ao longo da vida é uma escolha que o pai de um amigo, chamado João fez, uma decisão que, aos 76 anos, ele reflete com serenidade e gratidão. Em um Brasil que viu suas aventuras, contrastando com a rotina de seus irmãos que escolheram o caminho do casamento, ele encontrou uma vida repleta de experiências únicas.
Desde jovem, João desfrutou de uma liberdade que poucos têm a coragem de buscar. Viajou por Portugal, França e Bélgica, viveu um certo tempo no Porto e outro em Bruxelas e na Inglaterra, Stockwell, em Londres, que abriga uma das maiores comunidades de brasileiros, experimentando culturas diversas e conhecendo pessoas extraordinárias. Ele colecionou memórias que tornaram sua vida rica em histórias e aprendizados.
No entanto, a opção por uma vida solitária também teve seu preço. Conversando certa feita com ele, entendi que João compartilha que as celebrações familiares. Datas como Dia dos Namorados, Páscoa e Natal, frequentemente foram passadas em solidão. Mesmo recebendo convites para essas ocasiões, a ausência de uma família própria tornou esses momentos especiais um desafio emocional. No entanto, ele enfatiza que sempre teve amizades solitárias para compartilhar esses momentos. “Sempre tem um amigo ou amiga solitária nestas ocasiões e acabávamos marcando de sair para beber algo ou experimentar um novo prato. Tudo sem compromisso, apenas amizade”, disse ele.
Ao abdicar da formação de uma família tradicional, João reconhece que foi poupado de muitas dores e dificuldades que alguns de seus amigos enfrentaram. Evitou divórcios dolorosos, a perda repentina de cônjuges e o sofrimento decorrente de problemas familiares. Sua vida solitária proporcionou-lhe uma rede de amizades íntimas e a liberdade de dedicar tempo a essas relações.
Enquanto envelhece, João observa seus amigos que perderam parceiras e se encontram repentinamente solitários. Ele destaca a diferença em sua própria experiência, marcada pela continuidade da solidão ao longo dos anos. Para ele, essa condição nunca foi uma ausência, mas sim uma presença constante, algo que aprendeu a apreciar.
Questionado ao longo da vida sobre seu status civil, João responde com firmeza que não tem o desejo de se casar. Sua vida solitária é algo que o faz sentir-se confortável e completo. Mesmo diante da possibilidade de retroceder no tempo, ele acredita que permaneceria solteiro.
Ao avaliar sua trajetória, João reconhece que a vida solteira lhe trouxe satisfação e não sente a falta de algo essencial. Para ele, a escolha entre permanecer solteiro ou casar-se não é uma questão de certo ou errado, mas uma decisão que varia conforme a pessoa e as circunstâncias que a vida lhe reserva. Sua história é uma reflexão sobre a riqueza das experiências individuais e a diversidade de caminhos que cada pessoa pode escolher ao longo da vida.

_____

Gregório José, jornalista, radialista, filósofo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima