Alvaro Vargas
Ao longo da História, sempre existiu a comunicação dos homens com os Espíritos, cuja administração é feita pelo Mundo Maior, de uma forma gradual, conforme o nível evolutivo da Humanidade. Além dos Espíritos, este processo conta com a participação humana. Embora todos tenham alguma sensibilidade mediúnica, apenas os indivíduos previamente preparados no mundo espiritual, antes de reencarnarem na Terra, possuem esta característica mais desenvolvida; são aqueles dotados de uma mediunidade ostensiva. Esta prática é exercida rotineiramente nas casas espíritas, onde as mensagens, são geralmente, transmitidas pela psicofonia e psicografia, comunicação falada e escrita, respectivamente. Para que estas reuniões sejam eficientes, os médiuns são preparados durante vários anos, em cursos teóricos sobre os fundamentos do Espiritismo e exercícios práticos sobre o uso correto da mediunidade. Isso difere de outras seitas religiosas que se utilizam desse fenômeno de forma improvisada, utilizando médiuns despreparados para esta tarefa; neste caso, de acordo com o Espírito Emmanuel (XAVIER, F. C. Palavras de Emmanuel, cap. Médiuns, Mediunismo, Fenômenos Espíritas), esta ocorrência é denominada mediunismo.
Devido ao uso indevido, a comunicação mediúnica foi proibida por Moisés (Levítico, 20:27). Isto foi motivado pelo nível evolutivo dos hebreus em sua época, pois, rebeldes e sem noção dos riscos, utilizavam o mediunismo para frivolidades. Para discipliná-los, Moisés necessitou usar de muita energia, inclusive condenando milhares de hebreus à morte, por negarem Deus e adorarem um bezerro de ouro (Êxodo, 32:27-28). Contudo, como médium ostensivo, ele aprovava o mediunismo (denominado como profecia), quando se tratava de propósitos nobres, inclusive, elogiou os médiuns Eldad e Medad (Números, 11:26-29). Allan Kardec (O Céu e o Inferno, cap. XI, item 4), cita que “a proibição de Moisés era bastante justa porque a evocação dos mortos não se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição”. Apesar dessa proibição, Saul, rei de Israel (1010 a.C.), fez uma feiticeira evocar o Espírito Samuel (profeta judeu recém-falecido), jurando garantias de que ela não seria molestada por causa daquela evocação (I Samuel, 28:3-25).
De fato, Moisés agiu sensatamente ao proibir o uso indiscriminado da mediunidade em sua época. Entretanto, conforme o Espírito Emmanuel, “Jesus, assim como suavizara a antiga lei da justiça inflexível com o perdão de um amor sem limites, aliviou as determinações de Moisés, vindo ao encontro dos discípulos saudosos”. (XAVIER, F. C. Caminho, verdade e vida, cap. 9). Durante o seu messianato, o Mestre Nazareno conversou com os Espíritos Moisés e Elias no Monte Tabor (Mateus, 17:1-13) e, após o seu martírio, permitiu a ocorrência dos fenômenos mediúnicos no Pentecostes (Atos dos Apóstolos, 2:1-13). O Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, cap. XXVI), cita que “no dia de Pentecostes, vários fenômenos mediúnicos marcaram a tarefa dos apóstolos, mesclando-se efeitos físicos e intelectuais na praça pública, a constituir-se a mediunidade, desde então, em viga mestra de todas as construções do Cristianismo, nos séculos subsequentes”. Contudo, como os Espíritos que se comunicam são as almas dos próprios homens, bons e maus, recomenda-se uma análise crítica das profecias (mensagens mediúnicas): “caríssimos, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo” (1 João, 4:1). No Espiritismo, as reuniões mediúnicas são realizadas com propósitos sérios, em locais adequados e com pessoas treinadas para esta finalidade.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D, presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita