Alvaro Vargas
A ciência já comprovou que após a morte biológica, é iniciado o processo de decomposição do corpo, dissipando as suas moléculas na natureza, o que impossibilita alguém ressuscitar. Entretanto, os Evangelhos citam que Jesus ressuscitou, fato que foi testemunhado pelos seus apóstolos e seguidores. Contudo, o Cristo não se manifestou fisicamente. Surgiu em corpo espiritual, materializado, para ser visto e inclusive tocado pelos discípulos. Com isto, ficou demonstrada a vida após a vida, e que a morte biológica não mata o Espírito. Isto serviu para a criação de um dogma teológico religioso, no qual temos apenas uma vida na Terra e, após a nossa a morte, ressuscitaremos no juízo final, para ser julgado, podendo ser conduzido para o Céu ou Inferno, por toda a eternidade, dependendo da nossa conduta aqui na Terra. Este conceito está alicerçado em uma Epístola de Paulo: “e, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo” (Hebreus 9,27). Realmente, temos apenas uma vida e morremos apenas uma vez, mas temos várias existências na Terra. As religiões dogmáticas que adotam a unicidade da existência, assumem que Deus cometeu um erro, criando um homem imperfeito e que Ele não tem misericórdia, pois, condena ao fogo eterno as almas que cometeram iniquidades. Um contrassenso, pois, Deus é um Pai Bondoso. Ele nos criou simples e ignorante para evoluirmos através da reencarnação. Podemos regressar à escola terrena inúmeras vezes para o devido aprendizado, vivenciando as expiações e reparações que se façam necessárias.
A preexistência da alma está registrada em várias passagens Bíblicas, sendo necessário entendê-las além da letra, usando o raciocínio e o bom senso, para descobrir o significado de certas figuras de linguagem. O próprio apóstolo Paulo nos adverte para que não façamos interpretações literais da Bíblia: “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança não da letra, mas do espírito, porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3: 6). Em dois episódios significativos, Jesus discorreu sobre a necessidade da reencarnação. Em seu encontro com Nicodemos afirmou “que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (João, 3: 3). Noutro evento, visando confirmar ser o Messias, pois, conforme o profeta Malaquias, Elias voltaria antes do “grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4:5), Jesus disse: “Elias há de vir para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo, também o filho do homem está para sofrer da parte deles. Então, os discípulos compreenderam que Jesus lhes tinha falado a respeito de João Batista”. (Mateus, 17:10-13). O profeta Elias (IX a.C.), como qualquer ser humano, morreu, aparentemente num cataclismo natural, embora descrito alegoricamente na Bíblia (2 Reis, 2). Ele reencarnou como João Batista, primo de Jesus, confirmando o dogma científico da reencarnação.
Quanto a teologia dogmática do “juízo final”, na concepção espírita, esta expressão é uma alegoria das religiões tradicionais (institucionalizadas), significando o final de mais um ciclo evolutivo da Humanidade. A Terra está sendo promovida de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. Deus nos concedeu o livre arbítrio, atrelado a lei de causa e efeito. Temos a liberdade de agir conforme os nossos interesses, mas colheremos sempre os efeitos de nossas ações. Concluído o período atual, concedido para o aprendizado, as almas recalcitrantes no mal serão transferidas para um mundo primitivo, podendo retornar posteriormente, se modificarem as suas disposições mentais. Na Terra permanecerão apenas os Espíritos com inclinações para o bem. Porém, em qualquer situação, eventualmente todos os indivíduos despertarão para a vivência plena dos ensinamentos de Jesus.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita