Justiça sob a ótica do caos

Gregório José

Vivemos em um cenário onde o justiciamento, tanto por parte das autoridades quanto da população em geral, tornou-se uma triste realidade. Recentemente, testemunhamos um episódio que exemplifica essa dinâmica perturbadora: motoentregadores atacando portões de residências em represália a agressões sofridas por colegas em dias anteriores; vizinhos agredindo ladrões que furtam ou atacam pessoas ou comércio; militares sendo acusados de vingarem a morte de um de seus. Uma espécie de resposta, às vezes descontrolada, as afrontas percebidas.

Essa narrativa de revide, entretanto, não é exclusiva aos códigos das ruas. Recentemente, na Baixada Santista, um homem de 28 anos se tornou o sétimo suspeito morto durante a chamada Operação Escudo. Em uma cena que ecoa tragédias anteriores, ele foi atingido por tiros de fuzil disparados por policiais militares da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota). O local do incidente foi o Morro São Bento, em Santos, em plena luz do dia, enquanto ele estava no interior de um carro de aplicativo.

A versão oficial, divulgada pelo secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite, revela um quadro de confronto entre as forças da lei e um suposto traficante. A postagem no Instagram do secretário, com uma foto do homem, sugere uma exposição do que ele chama de “ostentação” do crime perante a população, ilustrando um ambiente onde criminosos se sentem à vontade para se exibirem nas redes sociais.

Segundo o boletim de ocorrência, os policiais receberam informações sobre a presença de um traficante nas proximidades do Túnel Rubens Ferreira Martins. Ao abordarem o veículo, um passageiro apontou uma arma, desencadeando a reação dos agentes. Cinco disparos de fuzil foram efetuados, resultando na morte do suspeito. Além da tragédia central, nuances intrigantes emergem. Uma mulher, alegadamente tia de consideração do falecido, se apresentou informalmente no hospital, fornecendo dados pessoais do suspeito, mas desapareceu quando solicitada a apresentar documentos. Um motorista de aplicativo, testemunha da situação, relatou que o suspeito pediu para voltar ao morro ao avistar um carro da polícia, indicando uma reviravolta inesperada na história.

Esses eventos são complexos e multifacetados, trazendo à tona questões sobre os limites do uso da força, o papel das autoridades e as reações da comunidade diante de situações controversas. São histórias repletas de simbolismos, ironias e prenúncios, revelando um tecido social intricado que exige uma análise profunda e reflexiva. Em um cenário onde vidas são perdidas e dramas humanos se desdobram, é crucial questionar, adaptar e evoluir para construir uma sociedade mais justa e equitativa.

 

 

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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo

 

 

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