João Salvador
Por desconhecimento sobre o comportamento diferenciado das espécies vegetais, surgem certas dúvidas e incertezas e confusos questionamentos, com a necessidade de uma ampla explicação, de uma resposta elucidativa. A dúvida de uma consulente merece um esclarecimento mais profundo, por ter encontrado no seu quintal, duas pequenas pitayas na flor “Dama da Noite”, próxima a um pé de pitaya. O que, na verdade, ela questiona, é se existe a possibilidade do fruto dessa flor, pela similaridade com o da pitaya, ser resultante de uma transferência de pólen pelos agentes polinizadores, capaz de ocorrer um cruzamento interespecífico, ou seja, entre plantas de diferentes espécies. Nesse caso, a dúvida é mais relevante quando as duas espécies ficam bem próximas ou se entrelaçam, dando margem no surgimento de frutos parecidos, porém, bem diferenciados morfologicamente.
Embora ambas produzam frutos semelhantes no formato, a distinção está no tamanho, sabor e consistência. As duas espécies não se intercruzam, não se misturam, cada uma mantém as suas características próprias. As flores, tanto as da pitaya como as da “Dama”, não são hermafroditas, não têm a estrutura feminina e masculina unidas na mesma flor, por isso não se autofecundam. Essa ausência de macho e fêmea na mesma planta, requer outra planta próxima para que ocorra a polinização cruzada, a fecundação e, consequentemente, formação de frutos. Como as flores se mantêm por pouco tempo abertas, questão de horas, caso não haja agentes polinizadores nesse espaço de tempo, não ocorrerá a frutificação, a menos que a polinização seja feita de forma manual.
Famosa pela intensa beleza das suas flores e perfume, a “Dama da Noite” contém um tipo de flor especial, abrindo apenas uma vez no verão de cada ano, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, sempre no período noturno. É uma flor branca, vistosa, exala um perfume agradabilíssimo, atraente para os insetos, notadamente às mariposas, que acabam polinizando e fecundado a flor, resultando na produção de frutos pequenos, uma miniatura em relação aos da pitaya.
É uma planta que pode se tornar de grande porte, cujo tamanho pode chegar até seis metros, e o seu ciclo de vida é considerado perene. Tem a aparência de um cacto gigante e em lugares altos, os seus ramos crescem para baixo, ficando pendentes. Como as suas partes retêm bastante líquido, as suas regas podem ser menos frequentes. É ideal para serem cultivadas em locais secos e quentes. As folhas vistas não são propriamente folhas, e, sim, caules modificados, em estruturas denominadas de cladódios, justificando sua fácil propagação. Existe a “Dama da Noite” do cerrado, uma epífita que cresce nos troncos das árvores, por isso o nome de pitaínha – orquídea, podendo, inclusive, ser comercializada. É um ótimo alimento para os pássaros e morcegos. Por fim, vê-se que o pólen da pitaya não tem intimidade com a Dama da Noite.
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João Salvador, biólogo; e-mail : [email protected]