O barulho do silêncio na cidade

Walter Naime

Como arquiteto e urbanista, considero a cidade uma das obras de arte mais importantes da face da Terra. Nela, tudo, desde os homens e até as coisas mais simples, dão uma pincelada tornando-a o que ela é como organismo vivo.

Em meio ao caos urbano, o silêncio da cidade se revela um verdadeiro concerto de sons.

Exploraremos a complexidade desse silêncio, diferenciando-o do simples ruído cotidiano que permeia nossas vidas.

Enquanto o ruído incessante do trânsito e da vida urbana preenche nossos ouvidos, é crucial distinguir este ruído da essência silenciosa que envolve os castelos industriais, os movimentos das águas, o ruído do comércio representado pelo “o senhor quer a sua via?”, das maquinetas de pagamento em todos os shoppings, restaurantes, supermercados, lojas comerciais e até mesmo o sutil fluxo do pensamento nas escolas, nos fóruns judiciais e do pensamento científico nas universidades. Em meio a tantas camadas sonoras, surge um paralelo intrigante: o barulho da cidade. Cito o estrondo do Big-Bang cósmico como um exemplo, onde ainda ressoa o eco da explosão que permanece nas televisões com seu chiado.

Esse silêncio não é vazio, ele carrega consigo o murmúrio das tempestades, o tráfego incessante do pensamento, os movimentos pulsantes da economia e finanças, assim como os deslizares dos pensamentos políticos que moldam o nosso mundo. É o silêncio que influencia o comportamento humano permeando ações e posturas de fé presentes nas diversas religiões.

O silêncio não é a ausência do som, mas uma força transformadora que molda o tecido social. Observamos sua influência nos costumes que por sua vez moldam as modificações urbanas. O silêncio silencioso das almas em paz consigo mesmo ecoa como uma melodia transcendental proporcionando uma harmonia no meio do tumulto.

O silêncio político de uma cidade é sutil, estamos na antevéspera dele.

Ele se manifesta de maneiras diversas penetrando os diversos extratos da sociedade. Ele não se traduz necessariamente em ausência de palavras, mas sim em nuances e subtextos que dão forma às interações e dinâmicas políticas.

O silêncio político pode surgir nas entrelinhas de discursos, onde temas sensíveis são evitados ou abordados com o devido cuidado. Pode-se manifestar nos gestos e expressões dos líderes, revelando informações não ditas. O silêncio político pode ocorrer nos corredores das instituições, nas decisões que não são discutidas abertamente, mas que moldam o curso da cidade e são formados longe dos olhos públicos.

O silêncio político é complexo e imperceptível. Ele pode ser tanto o resultado de estratégias deliberadas, quanto de dinâmicas sociais mais amplas.

O ruído político ao contrário é tumulto de vozes, informações e interações. Ele se manifesta de várias formas e pode ser tanto um reflexo vibrante na participação democrática como um obstáculo à clareza e eficácia nas decisões políticas.

As redes sociais e meios de comunicação desempenham um papel significativo na ampliação do ruído político.

Enquanto o silêncio político pode ser associado à falta de participação, o ruído político pode representar uma sobreposição exercida excessivamente de vozes, tornando difícil a absorção pelas comunidades.

Encontrar um equilíbrio entre a participação e a necessidade de debate informado é essencial para promover uma governança eficaz e em uma sociedade politicamente saudável. Façamos força para não borrar a nossa obra de arte.

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Walter Naime, arquiteto-urbanista, empresário

 

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