Disco arranhado: é gópi, gópi…

João Salvador

Existe uma antiga piada que conta que o sujeito estava a caminhar por uma estrada, quase à meia-noite, quando ouviu um certo trecho de uma canção que não se completava. Só no outro dia ele descobriu que se tratava de um pedaço de disco sob um arbusto espinhoso e um dos espinhos servia de agulha, que com o vento produzia o som.
Outro disco arranhado é o do gopi de Fátima Bezerra no impeachment de Dilma, que ressoa até hoje sobre o suposto golpe do fatídico dia 8 de janeiro de 2023, merecedor até de uma comemoração, pela defesa da democracia. Uma reunião esdrúxula, um espetáculo político e organizado, porém sem o povo – esqueceram de ler o Art. 1° da Constituição. Discursos épicos e doutrinários e ditatoriais, destilando ódio, chamando os “golpistas” de “fascistas e nazistas”, preocupados com o grande capital político do ex-presidente.
Mas se virarmos o disco, podemos afirmar que para dar um golpe de Estado é preciso seguir  uma minuta de distribuição de tarefas, traçadas clandestinamente. Não existe um golpe de Estado sem militares, sem tanques e material bélico. É claro, que os baderneiros merecem ser punidos dentro da lei, nos tribunais inferiores, mas os que estavam do lado de fora, de forma pacífica, em frente ao QG, foram traídos pelo próprio Exército, iludidos a embarcarem nos ônibus, rumo a um campo de concentração, ambiente de tortura física e psicológica, envolvendo a morte do Cleriston, que devia estar sob a tutela do Estado. Gente ainda se mantém presa, sem o devido processo legal, sem a voz a dos advogados de defesa. Outra parte solta, à espera de julgamento, porém presa pelo uso da tornozeleira eletrônica, enquanto o crime organizado im pera, impõe ordens.
O ano todo foi um massacre de narrativas, de falsidades, com a velha e corrompida mídia, festejando o autoritarismo, de um presidente falacioso, da politização do poder judiciário e dos parlamentares comprados.
A proposta de não conceder a anistia aos presos políticos e exilados e sustentar a mentira de golpe, corrobora a intenção de estabelecer a censura, regulamentar as redes sociais, calar a boca dos cidadãos. Se o PL 2630 for aprovado, adeus à internet. Esse pedaço de disco de agora é maior, faz enorme barulho pela agulha grossa, corroída pela ideologia e ignorância dos imbecis úteis ao sistema, formados pelas faculdades e milícias digitais, dentro da agenda ideológica.
Os ditadores jamais aceitarão as opiniões ponderadas do ministro da Defesa, José Mucio Monteiro e do jurista Ives Gandra Martins, de que não havia as mínimas condições para um golpe de Estado. Vão também ignorar a opinião pública da recente pesquisa, na qual 80% dos brasileiros que não acreditam no famigerado golpe. Quando o MST invadiu o congresso, há quase 17 anos, o presidente da República e a Justiça não agiram duramente.
Pelo jeito, as torneiras vão continuar jorrando para os membros da “carreta furacão”, com o uso abusivo dos jatinhos particulares da FAB pelos ministros, além do aumento do cabide de emprego para os apaniguados. Os pingos quentes e salgados sobrarão para os mais necessitados, através dos impostos do Tachad. Mas aguardem, as verdades virão à tona, vão desmascarar os mentirosos e sabotadores da democracia. Vem a crise, que ela não seja pior do que ocorre no Equador.

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João Salvador é biólogo

 

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