Alvaro Vargas
É comum, nas celebrações das bodas, o casal assumir o compromisso de estar juntos até que a morte os separe. Há uma certa lógica, tanto pelas incertezas sobre o que nos espera na vida após a vida, como pelas dificuldades de manter este compromisso conjugal até o final desta existência. Embora ninguém se case pensando na possibilidade da separação, o índice de divórcio no Brasil aumenta a cada ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2020), o tempo médio de duração de um casamento, antes do divórcio, reduziu de 15,9 para 13,3 anos, no período de 2010 a 2020. Entretanto, nem todos os casais que mantém os laços conjugais vivem em harmonia, sendo comum surgirem dúvidas se este relacionamento na Terra será mantido no mundo espiritual. O Espiritismo esclarece que o nosso corpo físico é apenas uma roupagem provisória, que se desgasta com o tempo, sendo “substituída” por outra, através da reencarnação. Regressamos para a erraticidade com a mesma personalidade, identidade sexual, virtudes e defeitos. Embora não exista o intercurso sexual no mundo espiritual, as almas que se amam buscam permanecer juntas. Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, item no. 200), cita que o amor e a simpatia cultivados no mundo material se mantém, e o relacionamento é baseado na concordância dos sentimentos. Contudo, considerando que a Terra é um mundo de provas e expiações, no qual as famílias vivenciam experiências difíceis e nem sempre exitosas, é provável que muitos destes relacionamentos se desfaçam na erraticidade. Os casais que vivem em relativa harmonia são uma minoria e, geralmente, estiveram aqui diversas vezes, repetindo a mesma experiência e aprimorando este relacionamento.
Importante destacar que nem sempre família terrena representa a nossa família espiritual. Como Espíritos necessitados de evoluir intelecto-moralmente, temos a necessidade de ressarcir os indivíduos que prejudicamos em existências pregressas. Assim, quando assumimos uma programação reencarnatória, podemos ser conduzidos a compartilhar um lar com antigos adversários do passado, que tanto pode ser o cônjuge, como os filhos e parentes. Graças ao esquecimento provisório, necessário para permitir esta reaproximação, temos condições de iniciar um novo relacionamento sem as lembranças dos antagonismos passados, permitindo desenvolver sentimentos mais elevados. Neste caso, após a morte física, se esta convivência foi suficiente para ressarcir os débitos e apagar as marcas do passado (mágoas, ódio etc.), este casal pode optar por continuar junto em sua rota evolutiva ou seguir caminhos distintos. No caso daqueles que devido à viuvez, contraíram uma segunda núpcias, não existirá um confronto com as almas das antigas parceiras, pois, a união na erraticidade é sempre baseada na empatia entre os pares. Quanto ao desejo das almas em permanecer juntas, não basta apenas ter este interesse. Caso um dos cônjuges tenha praticado iniquidades, distanciando-se moralmente do outro, ficarão separados até que providência divina permita a alma recalcitrante no mal se redimir através do mecanismo reencarnatório.
A doutrina espírita confirma que nem a morte física ou a reencarnação separam os casais que se amam, pois, os laços do amor são eternos. O Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. Os Mensageiros, cap. 30), cita que quando se encontrava na Terra não tinha a menor ideia de que existissem uniões matrimoniais depois da morte do corpo físico. Quando assistiu às festividades desta natureza na cidade espiritual Nosso Lar, ficou perplexo, observando que aqueles que assim o fazem são muito felizes. Entretanto, para possuir esta ventura, é preciso ter amado na Terra, movimentando os mais nobres impulsos do espírito. Para colher os júbilos desta natureza, é necessário ter amado com a alma. Os que se consagram exclusivamente aos desejos do corpo e não sabem amar além da forma, são incapazes de sentir as profundas vibrações espirituais do amor.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita