Alvaro Vargas
A instituição familiar brasileira está em crise, e isso pode ser constatado pelo aumento crescente do número de divórcios a cada ano. Atualmente, quase a metade das separações ocorre antes de se completar o seu décimo aniversário (IBGE, 2020). Segundo essa mesma fonte, o número de casais com mais de 20 anos de relacionamento, reduziu de 36% para 26% da nossa população, em um período de apenas dez anos (2010-2020). Além disso, apenas a manutenção do matrimônio não significa necessariamente que exista uma harmonia familiar, pois, muitos cônjuges têm optado pela preservação do casamento, tanto pela preocupação com os filhos como as consequências econômicas decorrentes da separação. Embora o divórcio seja uma opção viável para que ambos os cônjuges reconstruam as suas vidas, podemos constatar no aumento da frequência, a sua banalização. Entre os principais motivos alegados por aqueles que buscam a dissolução do casamento, destaca-se o esfriamento do relacionamento conjugal, a ausência de diálogo, as questões financeiras, as expectativas frustradas pela inexperiência e/ou imaturidade do casal, as desavenças irreconciliáveis e a traição conjugal.
Entretanto, o divórcio é uma experiência dolorosa em todos os aspectos, e as suas implicações, particularmente quando existem filhos, causa muito sofrimento para as partes envolvidas, provocando em alguns casos, distúrbios emocionais e psicológicos de sérias consequências. Na visão espírita, esse aumento na dissolução do matrimônio é devido à falta de compreensão sobre a importância da família e do comprometimento em preservá-lo. Contudo, é justamente isso, ainda associado a harmonia familiar, que deve ser a prioridade do casal. Como a decisão mais importantes da nossa vida é a escolha do nosso cônjuge, devemos pensar muito antes de casar-se e, mais ainda, se desejamos romper com o matrimônio. Os encontros na Terra são geralmente programados antes da reencarnação, depois de muito estudo sobre as nossas possibilidades de êxito, pois, sendo o nosso planeta um mundo de expiação e provas, existem chances de fracassarmos em nossas empreitadas. Eventualmente, a Terra será um mundo melhor, onde predominará a fraternidade entre os homens. Mas, no momento, considerando a nossa situação moral e intelectual, estamos reencarnados no local adequado para a nossa evolução espiritual.
O Espírito Joanna de Ângelis (FRANCO, D. P. SOS Família, cap. Família) define a família como “um grupo de Espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação, graças à contingência reencarnatória”. De fato, esse conceito está condizente com o mundo em que vivemos para desenvolver a nossa espiritualidade. Após assimilar a Boa Nova de Jesus, Joanna de Cusa o procurou, pois, desejava divorciar-se do marido (XAVIER, F.C. Boa Nova, cap. 15. Pelo Espírito Humberto de Campos). Disse-lhe o Mestre Galileu: “teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligado a ele se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação, cumprirás a vontade de Deus. Falas-me de teus receios e de tuas dúvidas. Deves, pelo Evangelho, amá-lo ainda mais. Os sãos não precisam de médico”. Embora possa parecer uma orientação difícil se ser seguida pela maioria das pessoas que possam estar vivenciando a mesma situação, convém analisarmos que até podemos adiar ou fugir das provas que assumimos antes de reencarnar, mas, enquanto não saldarmos todos os nossos débitos perante a justiça divina, regressaremos a Terra, quantas vezes necessária, vivenciando as mesmas experiências, podendo inclusive ocorrer em situações agravadas. Pois, conforme disse Jesus, “com toda a certeza afirmo que de maneira alguma sairás dali, enquanto não pagares o último centavo” (Mateus, 5:26).
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita