Gregório José
Numa pacata cidade, vivia um casal, João e Maria. João trabalhava em uma empresa comum, recebendo um salário que mal dava para sustentar a família. Ele frequentemente reclamava da vida, sentindo o peso das responsabilidades sobre seus ombros.
Maria, sua esposa dedicada, não trabalhava fora, como João costumava frisar. Seu dia começava cedo, preparando o café não apenas para si, mas também para os filhos do casal. Enquanto João descansava na empresa durante o horário do almoço, Maria lavava a louça acumulada na pia e arrumava a casa. Ela acordava os filhos, ajudava-os nos deveres de casa, fazia o almoço e cuidava para que tudo estivesse em ordem.
Após deixar os filhos na escola, Maria assumia uma lista de tarefas que incluía pagar contas deixadas pelo marido, fazer compras no sacolão de verduras para garantir uma alimentação saudável para a família, enfrentar filas na UBS para pegar senha da consulta do marido e agendar retornos ao pediatra para os filhos. Além disso, ela cuidava das tarefas domésticas, como recolher as roupas no varal, passá-las e organizá-las nos armários.
Ao final do dia, Maria buscava os filhos na escola, conferia os cadernos e notas, assinava cada um deles e preparava o jantar. Mesmo com todas essas responsabilidades, ela encontrava tempo para brincar com os filhos, criando momentos especiais em meio à correria diária.
Quando João chegava em casa, cansado como sempre dizia, tomava um banho rápido e ia para o bar com os amigos, buscando um momento de descontração para espairecer. Maria, a esposa que não trabalhava, como João repetia, dava jantar aos filhos e os colocava para dormir contando estórias maravilhosas de um mundo feliz.
Quando João retornava, muitas vezes reclamando da comida fria no fogão por não ter comido na hora certa, Maria se mantinha amorosa. Mesmo sem trabalhar, como João insistia, ela se deitava ao lado dele, satisfazendo suas necessidades físicas e emocionais.
A rotina de Maria é igual a de milhares de mulheres no Brasil. Ela se repete, com Maria desempenhando suas inúmeras funções sem nunca receber o devido reconhecimento. Ela continuava a tecer a rede invisível que mantinha a família unida, enquanto João, absorvido por suas próprias preocupações, parecia ignorar o valor incalculável do trabalho silencioso e constante de sua esposa.
E, os “Joões” insinuam que suas mulheres, malnutridas e desamadas, levam suas duras sinas de trabalho incansável, sem remuneração, sem reconhecimento, sem entusiasmo, incentivo ou apoio. Quando os “Joões” ajudarão?
Quando as “Donas Marias” terão direito a estudar e terem apoio e ajuda nos afazeres de seus lares?
_____
Gregório José, jornalista, radialista, filósofo