Dirceu Cardoso Gonçalves
Depois de tantas notícias sobre o fim da era do petróleo como combustivel e de acompanhar as alternativas (como a popularização do carro elétrico) e o ativismo ecológico pela descarbonização do planeta, é praticamente inacreditável que o óleo ainda tenha potencial para provocar a guerra e (o pior) que o conflito – se não for bem administrado – poderá até opor as grandes potências bélicas.
A pretensão do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, de anexar ao seu país a região de Essequibo (70% do território da Guiana) só pode ser atribuída à recente descoberta de reservas de petróleo naquela área. Tanto que os primeiros preparativos para depois da pretendida invasão, se ela se concretizar, é a instalação da PDVESA, a companhia petrolífera venezuelana para atuar na região conquistada e pilotar as licencas de exploraçao do subsolo.
Está marcada para esta quinta-feira (14/12), em São Vicente e Granadina, pequeno país da América Central, a reunião de Maduro com Mohamed Irfaan Ali, presidente da Guiana, que já advertiu: não negocia a soberania sobre Essequibo. Lula, convidado a organizar o encontro e até atuar como mediador, não comparecerá. Já despachou o assessor Celso Amorim, experimentado membro da diplomacia brasileira, para representá-lo. O brasileiro, pouco ou nada terá a fazer, pois os chefes de Estado interlocutores divergem sobre a pauta. Maduro quer conseguir a anuência da Guiana para invadir seu território, e Ali exige respeito ao seu país e obediência à decisão da Corte Internacional de Justiça (órgão da ONU) que, consultado, proibiu a anexação territorial pretendida.
O presidente Lula, não obstante sua amizade ou simpatia ideológica a Maduro, deveria abster-se de ter seu nome vinculado a uma trapalhada como esta, sem chances de resultar em boa coisa. Fez bem ao advertir – através do Ministério da Defesa – que o Brasil não permitirá a passagem pelo seu territorio de tropas venezuelanas rumo à Guiana. Mas também não deveria meter-se na questão.
Não são poucas as restrições internacionais sofridas pelo governo de Nicolás Maduro e seus métodos. Tentar estabelecer um acordo Venezuela-Guiana não parece ser uma alternativa coerente ou produtiva. E, se Maduro tentar a invasão mesmo com tudo que há em contrário, certamente ocorrerão reações internacionais, notadamente dos Estados Unidos, que já possui parceria militar com a Guiana e pode até instalar uma base militar naquele país, exatamente ao lado do terriório venezuelano.
Há muita especulação sobre o real motivo do interesse de Maduro sobre Essequibo. Não importa qual a verdadeira. Mas por precaução, o governo brasileiro deveria ficar distante para não correr o risco de torna-se sócio do conflito e dos prejuízos e sanções que dele poderão decorrer.
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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo) ; [email protected]