A riqueza é uma provação difícil?

Alvaro Vargas

Para a maioria das pessoas, a riqueza é sinônimo de felicidade. A atração e o apego ao dinheiro são tão fortes que chega a escravizar os que detêm a fortuna e mesmo os que não a possuem, pelo desejo obsessivo de consegui-la. Entretanto, embora a abundância permita ao homem atender aos seus desejos materiais, isso não lhe confere a felicidade, pois, habitamos um mundo de provas e expiações, no qual estamos sujeitos a uma série de adversidades. De acordo com o Espiritismo, todos reencarnam na Terra com um projeto específico de trabalho, para a evolução intelecto moral. Conforme Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 814) a concessão da riqueza e o poder para uns e a miséria para outros, tem por objetivo submeter os indivíduos a experiências diferentes, escolhidas por eles antes da reencarnação. Embora a indigência seja um grande desafio, uma vez que pode conduzir as almas despreparadas e/ou invigilantes à revolta e à inveja, a riqueza é uma prova mais perigosa e arriscada, pelos arrastamentos que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce. A experiência da riqueza se reveste de importância por permitir testar a nossa resistência a uma vida degenerada, e fazer a reparação das iniquidades que foram praticadas em existências pregressas através da caridade em obras filantrópicas e/ou na gestão de empresas e indústrias que geram empregos e riqueza para a sociedade.

Conhecedor do egoísmo e ambições humanas, Jesus ensinou que “é mais fácil passar um camelo (corda de pelos) pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mateus, 19:24). A respeito dessa prova tão difícil, o Mestre ainda proferiu quatro parábolas: o Rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), o Filho pródigo (Lucas 15:11-32), a avareza (Lucas 12:13-21) e o administrador infiel (Lucas 16:1-9). Porém, Jesus não desconsiderou as dificuldades existentes na pobreza, expandindo os seus ensinamentos através da Terceira Revelação (Espiritismo), esclarecendo que ambas as provas, riqueza e pobreza, são difíceis, pois, enquanto a miséria provoca queixas contra a Providência, a riqueza a incita a todos os excessos (KARDEC, A. Obra citada, questão 815). Embora a prova da pobreza sempre tenha sido um aprendizado difícil, tornou-se ainda mais penosa para os indivíduos com predisposição para a inveja, desde o advento da internet, que possibilitou uma maior exposição social das pessoas.

Lamentavelmente, o homem ainda não compreendeu que a reencarnação na abastança ou na carência, equivalem-se aos cursos existentes nos educandários terrestres. Com relação à fartura, devemos estar conscientes que, na verdade, somos apenas depositários e não proprietários dos bens materiais. O Espírito Manoel P. Miranda (FRANCO, D. P. Transtornos Psiquiátricos Obsessivos, cap. 18) cita que “todos os bens que a Terra confere são coletivos e devem ser aplicados em benefício geral. Ninguém pode deter o que lhe é emprestado pela vida, porque é obrigado a dar conta da sua administração, de como aplicou os recursos que se demoraram em seu poder”. Conclui então esse Espírito que devemos considerar os bens terrenos como uma prova de manejo difícil, assim como tudo que exalta o indivíduo, que tem o dever de servir, de repartir, de amparar e não fruir egoisticamente. Por isso, o apóstolo Paulo disse: “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Timóteo, 6:10). E Jesus nos advertiu: “não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consome, e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mateus, 6:19-21). Consequentemente, quando compreendermos que a felicidade não consiste na posse da riqueza material, passaremos a trabalhar ativamente na conquista dos bens espirituais, buscando a verdadeira felicidade.

 

Alvaro Vargas, engenheiro agronônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

 

 

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