Adelino Francisco de Oliveira
A luta é sempre de classes! A luta sindical tem como objetivo fundamental superar as estruturas e as práticas que geram, reproduzem e perpetuam situações de exploração presentes no contexto das relações cotidianas de trabalho. No horizonte da luta sindical, como referência inegociável, situa-se a utopia do reino da liberdade. A diminuição da jornada de trabalho, em um ambiente livre de todas as formas de assédios, destaca-se como condição para a construção do trabalho como expressão maior da liberdade e da consciência humana.
Identificando as opressões! A luta pela emancipação é sempre travada por uma determinada classe que, quando organizada, cria as condições históricas para se levantar contra um sistema de exploração e opressão. Mas a classe trabalhadora não pode ser compreendida de maneira homogeneizada, como se não houvesse especificidades em seu interior. É preciso se identificar a singularidade com que as opressões se manifestam historicamente sobre os sujeitos determinados. Há singularidades inerentes a cada grupo social que devem ser percebidas e consideradas na dinâmica da atuação sindical.
É partindo da compreensão de que a classe trabalhadora, em seu movimento organizativo e de libertação, traz singularidades internas, que o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), em sua seção São Paulo, criou a pasta de políticas étnico-raciais. Isso não significa, de forma alguma, fragmentar a frente da luta classista, mas reconhecer que a luta é travada por diferentes sujeitos históricos, que trazem as duras marcas das opressões, impostas a partir de relações complexas e cotidianos do universo de trabalho.
Reconhecer o racismo como uma das formas históricas de violência objetiva e também simbólica imposta pela classe dominante sobre os trabalhadores pretos consiste em produzir elementos para que a luta emancipatória seja mais assertiva e direcionada, buscando estratégias específicas de resistência e luta por parte da classe trabalhadora. No limite, o que se almeja com a luta sindical é a abolição plena de todas as formas de opressão e exploração, apontando para uma outra sociabilidade a partir das relações de trabalho. O processo da luta sindical, no vislumbre do reino da liberdade, é sempre gradual, avançando para acúmulos de direitos conquistados.
O racismo se manifesta de diferentes maneiras, tendo sempre como ponto de convergência a tentativa de se desumanizar a pessoa preta, negando-lhe seus direitos mais básicos de cidadania. O sindicato deve identificar as múltiplas manifestações desse racismo que alcança e permeia as relações de trabalho, de maneira a criar mecanismos de denúncia e enfrentamento ao racismo interpessoal, institucional e estrutural. Não é possível mais se aceitar a compreensão de que o racismo é uma atitude que deve ser combatida apenas no campo ético-moral.
A sociedade carrega uma dívida social histórica para com a população negra. A luta sindical é também para que essa dívida seja reconhecida e devidamente paga. Afirmar a identidade negra no contexto da luta de classes, no entanto, não representa cair em um debate identitário superficial, que pode conduzir para uma divisão interna da classe trabalhadora. A superação total do racismo, em um processo de emancipação histórica da humanidade, passa, necessariamente, pela superação do próprio sistema capitalista, sedimentado em uma dinâmica de exploração e opressão.
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Adelino Francisco de Oliveira, professor do Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba, Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; e-mail: [email protected]