Menos insetos nos para-brisas

Gregório José

Viajando recentemente, fiz duas constatações sobre a redução significativa da presença de insetos no para-brisas durante viagens uma por 400km e outra 350km e, elas coincidem com estudos que vêm sendo conduzidos em diversos países, alertando para um declínio alarmante na população de insetos voadores. A sua constatação pessoal reforça uma tendência global que tem sido objeto de análise desde 2009. No passado era ostentação chegar em um posto à beira da rodovia e pedir para limpar o para-brisas, o que indicava que estavas viajando por longos quilômetros.

Por esta razão, o fenômeno, conhecido como “efeito para-brisa”, é respaldado por pesquisas que demonstram uma diminuição superior a 75% na população de insetos na Alemanha ao longo dos últimos 27 anos. Esse declínio, identificado em 63 áreas de proteção ambiental, suscita preocupações profundas, pois afeta diretamente o equilíbrio dos ecossistemas.

O estudo em questão, conduzido por Caspar Hallmann da Universidade Radboud, representa uma análise abrangente da população de insetos voadores, incluindo abelhas, borboletas e mariposas. Os resultados indicam uma drástica redução que não pode ser atribuída unicamente aos modelos aerodinâmicos dos veículos, como inicialmente sugerido. Mesmo em áreas de reservas naturais, onde se esperaria uma proteção ambiental mais eficaz, o declínio foi notável.

Hans de Kroon, também pesquisador da Universidade Radboud, ressalta a importância de adotar medidas para atrair insetos, como o uso de polinizadores, e estratégias que minimizem os impactos da agricultura intensiva. A incerteza em relação às causas do declínio destaca a urgência de uma investigação mais aprofundada.

A agricultura moderna, apontada como um ambiente hostil para insetos, emerge como um possível fator contribuinte, juntamente com o uso de pesticidas e adubos. A morte em massa de insetos, além de impactar diretamente a biodiversidade, compromete a cadeia alimentar, uma vez que muitas espécies dependem desses insetos para alimentação, polinização e outros serviços ecossistêmicos.

O estudo evidencia a necessidade de um monitoramento eficiente e de pesquisas contínuas para identificar as causas específicas do declínio e sua extensão em diferentes populações de insetos aéreos. Diante do impacto generalizado nas reservas naturais, medidas urgentes são cruciais para reverter ou mitigar esse declínio, preservando assim a saúde dos ecossistemas e a sustentabilidade ambiental.

Vamos trabalhar por menos pesticidas nas lavouras e mais insetos em nossos carros.

 

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Gregório José, jornalista, radialista, filósofo

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