Alvaro Vargas
O Espírito André Luiz (XAVIER, F. C. Ação e Reação. Segunda Parte, cap. 13) descreve a expressão débito congelado ou estacionário, como um estágio isolado para o Espírito recalcitrante no mal, em que a Lei da Justiça dá espaço à Lei da Clemência. Essa obra cita a situação de um indivíduo vivenciando um processo expiatório devido aos crimes praticados em sua existência pregressa, quando abusou do poder que detinha para construir ilicitamente a sua fortuna. Conforme a Lei de causa e efeito, reencarnou como um anão deformado, com idiotia, paralítico, exalando de seu corpo físico odores fétidos que inspiravam compaixão e repugnância. Na existência anterior, habitara um palácio, e na presente reencarnação, um casebre desprovido de tudo. De acordo com os assistentes espirituais, essa alma se mantinha em um processo de hibernação espiritual, compulsoriamente enquistado no próprio íntimo, a benefício da comunidade de Espíritos desencarnados e encarnados, porquanto tão expressivos se lhe destacavam os crimes de ordem material e moral que a sua presença consciente, na Terra ou no Espaço, provocaria perturbações e tumultos de consequências imprevisíveis. Desfrutava, desse modo, uma pausa na luta, como ensaio de esquecimento, a fim de que no futuro, pudesse encarar os compromissos adquiridos, promovendo-lhes solução digna nos séculos próximos, a golpes de férrea vontade na renúncia de si mesmo.
Sabemos que Deus é um Pai boníssimo e misericordioso, não existindo pecados sem remissão. Contudo, as Suas Leis são justas e todos devem ser reeducados através dos mesmos dissabores que provocaram aos seus irmãos em Humanidade, sendo também convidados a ressarci-los nas oportunidades reencarnatórias. Embora o Espírito André Luiz (obra citada), tenha tratado do “débito estacionário” para um caso específico, praticamente todos nós possuímos dívidas clamorosas acumuladas ao longo das reencarnações, com carmas coletivos aguardando o seu ressarcimento há milênios. Felizmente, Deus permite que através da caridade possamos eliminar essas iniquidades de forma gradativa, atenuando o processo expiatório. Entretanto, caso optemos por recalcitrar no mal, somos convocados para o devido ressarcimento na época determina pelo Mundo Maior. Foram os casos dos hebreus que para se estabelecerem na “Terra Prometida”, após o êxodo do Egito (1.500 a.C.), destruíram mais de trinta reinos, e dos romanos, que construíram um império (27 a.C. – 476 d.C.) através de conquistas sangrentas, subjugando as outras nações graças ao seu poderio militar. Reencarnaram na Europa no século passado, expiando as suas iniquidades em duas Guerras Mundiais (NEVES, W. Encontros com Jesus. Pelo Espírito Yvonne Pereira, cap. 14).
Ninguém pode alegar ignorância, uma vez que está escrito em nossa consciência as Leis de Deus (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, questão 621). Todo prejuízo que causamos a sociedade, sejam por crimes praticados ou pela indiferença demonstrada com a miséria humana, pela negligência ou por questões ideológicas, é um crime perante as leis divinas. Conforme Allan Kardec (obra citada, questão 642), “é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer”. Embora a misericórdia divina possibilite manter os débitos congelados por um período, não podemos procrastinar a reforma íntima indefinidamente, pois, estamos no final de um ciclo evolutivo, no qual a Terra deixará de ser um planeta de provas e expiações para se tornar um mundo de regeneração. A nova Humanidade será composta dos habitantes com propensão para o bem, além de Espíritos mais evoluídos que estão emigrando para o nosso orbe. Os indivíduos contumazes no crime, após a desencarnação, estão sendo exilados para um mundo primitivo (FRANCO, D. P. No Rumo do Mundo de Regeneração. Pelo Espírito Manoel P. Miranda, cap. 11).
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D, presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita