Cutucar a onça

José Renato Nalini

 

Há quem goste de “cutucar a onça com vara curta”. A dupla formada pelo jornalista Carlos Orsi e a microbiologista Natalia Pasternak se enquadraria nessa hipótese. Publicaram o livro “Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério” pela editora Contexto.

Nele, afirmam que práticas tais como a homeopatia, astrologia, acupuntura e psicanálise são falácias. Ou sejam, não servem para nada.

O jornalista Carlos Orsi diz que o título alternativo seria “Crenças Epistêmicas Não Justificadas”, mas esse título não atrairia a curiosidade dos leitores. É o que também se recomenda aos autores de dissertações e teses com títulos muito técnicos. Se quiserem vender – num país em que todos publicam, pouquíssimos leem – precisam de um título mais convidativo.

O livro não trata só desses quatro assuntos polêmicos. Inclui discos voadores, deuses astronautas, constelação familiar, paranormalidade, curas energéticas e várias dietas. Não aborda a religião, por escolha dos autores. Para eles, as crenças religiosas precisam ser respeitadas.

Todavia, crenças em tratamentos psicanalíticos, homeopáticos, resultantes de acupuntura ou na leitura atenta de horóscopos também podem ser respeitadas. Se as pessoas acreditam, se isso faz bem a elas, que mal existe em preservar essas técnicas de reduzir a angústia, a tristeza, o estresse e a infelicidade que acomete os racionais?

É cientificamente comprovado que a auto sugestão produz resultados inacreditáveis. Muitas das enfermidades que acometem os humanos têm origem na mente. E os labirintos da consciência muitas vezes são imperscrutáveis. Sem dúvida, o conforto da acupuntura, da homeopatia, da psicanálise, pode fazer a diferença e mitigar a situação pessoal.

Numa nação que adota o pluralismo como princípio, simplesmente abortar práticas que têm profissionais, pacientes e seguidores, talvez não seja a melhor estratégia. A liberdade de expressão permite que haja sustentação de pontos de vista adversos, tudo para suscitar debate, reflexão e se busque a verdade. Mas esta é multifacetada e complexa. Cabe lembrar a estória dos cinco privados da visão relatarem o que significa para eles um elefante. Enfim, levantar o assunto é bom. Surgirão bons argumentos, de lado a lado.

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José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

 

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