Mostra com imagens captadas pelos fotógrafos Rubens Cardia e Guilherme Leite pode ser vista no hall do salão nobre da Câmara
Retratar a forma como vivem as pessoas nas comunidades de Piracicaba é a proposta da exposição “Ruas, Vielas e Becos”, que pode ser conferida no hall do salão nobre da Câmara até o próximo dia 17, das 8h às 17h. A mostra faz parte dos eventos em comemoração ao Dia Municipal da Favela, celebrado anualmente em 4 de novembro e incluído no calendário oficial de Piracicaba pela lei 9.657/2021, de autoria de Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.
A exposição, também de iniciativa da vereadora e produzida em parceria com os fotógrafos da Câmara Rubens Cardia e Guilherme Leite, traz fotos das comunidades Conquista, Esperança, Renascer e Frederico e do Jardim Oriente, que passou por processo de reassentamento.
“Cerca de 30 mil pessoas vivem em favelas no município. São pessoas que produzem e consomem a cultura do samba, hip-hop e capoeira e também da culinária. Não é possível viver sem saneamento; temos que sempre trazer à tona que essas pessoas existem e têm direitos. É importante trazer a visibilidade e promover debates para lembrar suas necessidades”, ressalta Silvia Morales, acrescentando que 13 milhões de pessoas moram em favelas no Brasil e 1 bilhão no mundo, segundo dados de 2021.
Na última quarta-feira (8), a vereadora fez a entrega de homenagens a moradores de comunidades locais, durante a reunião solene em comemoração ao Dia Municipal da Favela. Entre esses moradores esteve Maria Silva Lima, a Vó, da comunidade Esperança, uma das personagens da exposição, junto com Antônio Neto Brione, que ajuda a contar a história do Jardim Oriente —o bairro passou por processo de reassentamento, pelo qual pessoas saídas de várias favelas foram morar na localidade com água, esgoto e lotes definidos. “Hoje a tendência é regularizar essas pessoas em seus próprios lugares de ocupação”, observa Silvia Morales.
Os dois fotógrafos da Câmara que participaram do trabalho de pesquisa e produção que deu origem à exposição falaram sobre a experiência e o processo de construção da mostra. Recém-ingresso como servidor efetivo da Casa, Rubens Cardia conta que, por ter se mudado há pouco tempo para Piracicaba, não conhece ainda todos os bairros e, por isso, entrou no projeto “com um olhar de criança, de descoberta”. “Ao chegar às comunidades, tudo era novo para mim. Procurei olhares diferentes, apesar de estar no fotojornalismo há 20 anos e ter acompanhado muitos trabalhos sobre pessoas em áreas de risco.”
Sua maior preocupação, diz, foi não explorar a “estética da miséria” —que ficou famosa na década de 1940 por chamar a atenção para o problema—, mas, sim, de mostrar as difíceis condições enfrentadas pelos moradores, tendo o cuidado de inserir uma análise “poética”, pela qual as pessoas se sentissem orgulhosas e valorizadas, tal como o proposto pelo projeto. “Não era apenas uma visita de gabinete, mas uma documentação dessas comunidades”, ressalta.
Guilherme Leite conta que teve como inspiração o fotógrafo Severino Silva, considerado um dos mais importantes fotojornalistas de conflitos urbanos, e que este foi seu primeiro trabalho em áreas de comunidades. “Ao acompanhar os vereadores no trabalho na Câmara, passamos por situações novas que nunca imaginamos, não existe rotina”, diz Guilherme, para quem integrar o projeto permitiu “circular pelas comunidades, ver o dia a dia delas e mostrar suas condições”. Para ele, a foto que registrou em que as casas de uma comunidade e outros prédios são separados por um muro é uma das mais simbólicas. “É muito representativo”, aponta.
“Nem todo mundo sabe como são as favelas, e o objetivo da exposição é trazer luz a como vivem seus moradores”, diz Silvia Morales. “Com esse trabalho chamando a atenção, espero que consigamos dar mais um passo para voltar ao tempo em que se conseguia acesso de moradia digna às pessoas”, expressa Rubens.