Juliana Camargo Gonçalves
Você já amou? Estive por um tempo relativamente curto, comparado ao da existência humana, pensando em como as milhares de manifestações do amor simplesmente acontecem na duração de um dia. Diante disso, cheguei a conclusão de que essa simples observação de 24 horas, me renderia um tempo quase que infinito comparado à duração de nossas lembranças. Por muito tempo as pessoas pensavam que existiria amor apenas quando conduzido por um cavalo branco e belas palavras. Mas o amor sempre teve a sua ocupação muito além de tudo isso.
Minha mãe costumava brincar que o amor poderia estar nos lugares mais inesperados, como na padaria, dobrando a esquina, no ponto de ônibus, ou ainda (como no meu caso), numa sala de vestibular. Nunca pensei que o amor pudesse carregar a verdade e a motivação para viver cada segundo do dia com um brilho diferente no olhar, ou uma batida mais descompassada que faz tanto sentido. A verdade é que o amor está nas frases mais simples: “vi isso e lembrei de você”, “dormiu bem?”, “como você está se sentindo com tudo isso?”, “vai ficar tudo bem, estou aqui com você”, “se cuida”, “me avisa quando chegar”, “leva um casaco porque vai esfriar” e nas tantas outras maneiras sutis de se dizer “eu te amo”.
Gosto de pensar que sempre fui alguém que se familiarizou com as palavras, mesmo sabendo do peso que elas podem carregar. Mas sempre valorizei todas as demais demonstrações, como o bolinho preparado para receber visitas, o abraço hesitante ao se cumprimentar alguém, a música que tem o poder de resgatar emoções, o autocuidado após um dia estressante ou o simples ato de acordar feliz com o “bom dia” que se anseia ouvir.
Grandes clichês continuarão sendo grandes clichês por sua graça de traduzir o quão ordinário e ridículo é amar. E assim, daremos continuidade ao poema que fora brilhantemente construído por Fernando Pessoa, de que, na verdade, somente as criaturas que nunca amaram têm espaço para serem ridículas. Não haveria motivo mais óbvio e mais prosaico para movimentar o mundo senão o amor. Em suas mais diversas faces, interfaces, jeitos, identidades e manifestações. É este talvez o único elo que sustenta o mundo e nos faz lembrar do por que somos “humanos”. O amor, no seu mais divino posto de curar feridas, respeitar diferenças, abraçar defeitos e louvar a esperança de que para tudo há uma razão para conduzir os caminhos da maneira que eles acontecem.
Por isso, quando o assunto for este, não há lugar para limitações, não viva pensando no abraço que poderia ser dado ou na palavra que poderia ter sido dita. Não espere para se declarar quando a ampulheta da vida já tiver perdido o último grão de areia. O risco que corremos desde quando nascemos já é um lembrete e um convite para amar a cada segundo. Seja o amor romântico, amigo, materno, fraterno, irmão… a vida corre e o tempo não para. E caso esteja pensando, não, hoje não é um dia especial, não é uma data comemorativa esquecida. Justamente por isso o amor está em tudo e nada, ao mesmo tempo. Em tudo porque habita todos os lugares, espaços e tempos, e em nada por nunca precisar de um dia específico para ser comemorado. O amor é celebrado e sentido todos os dias, absolutamente.
Tudo isso para nos lembrarmos que ao deitar a cabeça no travesseiro após um dia cansativo, o primeiro pensamento que nos surgirá será o de gratidão por mais um dia regado de amor. Pois quando há amor, não há espaço para sentir medo de não se permitir ter o coração marcado, ou vergonha para enfrentar os obstáculos, ou ainda até mesmo publicar uma crônica em um jornal com um destinatário que terá a certeza de ter um texto feito especialmente para ele. O amor, quando amor, nunca precisou de explicações, ele apenas é. Em sua mais plena imensidão e magnitude. O amor é.
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Juliana Camargo Gonçalves, estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP)