Camilo Irineu Quartarollo
Os palestinos e judeus são filhos de Abraão e este patriarca recebeu anjos em sua tenda, quando interveio por Sodoma e Gomorra. Suplicou, argumentou exaustivamente com Deus, alegando que não se pode fulminar cidades inteiras onde estejam pessoas inocentes!
Para fortalecer a fé e hospitalidade de Abraão, os peregrinos celebram a Festa das Tendas, com o improviso de cabanas cobertas por folhas de figueira ou ao relento, convivem no abrigo precário ricos e pobres e mesmo judeus palestinos, fora da zona de conforto. No findar da festa deste ano, Israel foi duramente atacado pelo Hamas.
Apesar do ato cruel, entretanto, a resposta bélica contra Gaza ocupada é desproporcional. A população inocente está exposta aos mísseis e ao terrível fósforo branco, o qual nem com água se apaga e é condenado pelas organizações dos direitos humanos. Já morreram inocentes, civis, jornalistas e funcionários da ONU.
Nem a Lei do Talião é ataque indiscriminado, pois detalha, “olho por olho, dente por dente”, não é reparação generalizada. Jesus aboliu essa lei pela do amor e perdão. Gandhi foi incisivo ao afirmar que pela lei do talião “acabaremos todos cegos e desdentados”, e acrescento, com pesar, acabaremos todos mortos, inclusive o Planeta. Essa lei favorece um ciclo vicioso de vinganças fratricidas.
A lei do ‘amor aos inimigos’ parece enfadonha, mas o ódio já provocou e provoca muitos males não aos inimigos, mas a quem se municia da mágoa, como o primogênito da parábola do Filho pródigo.
Os valores de lealdade, hospitalidade, justiça e misericórdia, estão presentes em todas as culturas. Em muitos povoados pobres, aproveita-se o calor do forno comunitário para assar pães e carnes. As famílias amassam os pães e levam ao mesmo forno da vila, não vale a pena fazer um único pão para se comer a sós. Por que não dois estados ou um estado com dois povos? Ou, como diz Isaías, que “o lobo e o cordeiro pastem juntos… o leão coma palha com o boi… que não se faça mal nem dano algum em todo o santo monte”.
O fenômeno Jesus cresceu pela corrente de solidariedade entre os mais vulneráveis. As reaparições do ressuscitado são na hora da partilha, da refeição, como um deles, podendo comer e beber juntos, como sinal perpétuo de humanidade. A marca indelével do cristianismo, patrimônio imaterial que nos torna humanos é a celebração da partilha, com religião ou não. O cristianismo não são as seitas fanáticas de fundamentalistas, de círculos fechados e opressores, Jesus se vinculou ao pão como se fosse o seu próprio corpo sacramental.
A terra prometida não está na Patagônia, Uganda, Congo, nem mesmo é o antigo mapa da Palestina de Josué. A terra prometida é a presença cuidadosa de uns pelos outros, quando o divino se faz presente e cria relações sadias, o mundo, a vida. Sem amor, respeito e liberdade à Terra prometida é promessa do inferno.
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros