Adelino Francisco de Oliveira
Sempre gostei da palavra mestre, com seu significado tão emblemático e profundamente simbólico. De pronto o termo me remete a dois personagens magistrais e gigantes da história, que inspiram para uma maneira ética e política de se viver: Sócrates e Jesus. Interessante que as trajetórias e ensinamentos de ambos se encontram em tantas mensagens, lugares e sentidos. Talvez não haja nada mais digno, relevante e cheio de nobreza do que o ofício de mestre!
O inacreditável e não menos contraditório é que as sociedades contemporâneas parecem ter abandonado a busca pela sabedoria e o fascínio pelo conhecimento, lições maiores dos dois grandes mestres em alusão. Em uma jornada demarcada pela mais irracional insensatez, a ignorância passou a ser exaltada com orgulho, como se fosse um valor, alçando as posturas negacionistas, anticientíficas e anti-intelectuais como referências válidas para balizar as decisões mais importantes sobre a vida em sociedade e as relações humanas.
Na era do conhecimento e da informação, não é raro se ouvir prognósticos anunciando o lugar obsoleto do professor. Aliás, muitos, inclusive, arriscam-se em decretar a aposentadoria dos próprios livros. Deparamo-nos, então, com sociedades cada vez mais carentes e vazias de mestres. Apesar do acesso cada vez mais amplo a informações variadas, não há, no mesmo compasso, um avanço na construção e no domínio de conhecimentos. Os recursos tecnológicos permitem com que informações sejam acessadas com rapidez e agilidade. Entrementes, a facilidade talvez esteja justamente inibindo e solapando a perspectiva da reflexão, da criticidade e do conteúdo.
Situa-se aqui a imprescindibilidade do professor como experiente formador, capaz de caminhar ao lado do discípulo, ainda em incipiente trajetória, a intermediar a construção do conhecimento. O professor, assumindo a condição de mestre, pode orientar; apontar para valores; despertar para uma concepção aberta de mundo, livre de todas as formas de preconceitos; aguçar para que a curiosidade seja experimentada e formar para opinião éticas e plenas de humanidade. O aluno, sob o auspício do mestre, pode avançar em direção a um saber concatenado e significativo. O magistério atinge extrema relevância quando pensado em um mundo a conclamar por um sujeito que forma, sensibiliza para valores, incrementa o olhar para a cultura e para o refinamento do conhecimento.
O professor deve ser portador de uma policompetência. Isso significa estar aberto para a realidade complexa do conhecimento, que não pode ser entendido como algo estanque, fragmentado e desarticulado. O conhecimento complexo contempla a busca por um diálogo constante com as diversas áreas do saber. A liderança do professor passa pela dinamização das aulas e por sua capacidade de entusiasmar seus alunos. O professor, como autêntico mestre, é aquele que incentiva, acolhe, orienta, acompanha possibilitando que o aluno se lance, projetando-se para novas possibilidades diante da vida e do conhecimento.
O professor deve constituir-se como sujeito que reflete, pensa, discursa, escreve e articula, acenando para formas cada vez mais democráticas de vida em sociedade. É evidente a contribuição social do professor, cioso das implicações éticas e políticas de seu ofício de mestre. Mergulhado em uma grave crise social e de valores, o mundo contemporâneo tem necessidade e urgência de mestres, aqueles professores comprometidos unicamente com a busca pela verdade, que promove experiências emancipatórias, gerando libertação pessoal e de toda coletiva.
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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba
Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; e-mail: [email protected]