Por que Jesus chorou?

Alvaro Vargas

Um dos episódios memoráveis na vida Jesus de Nazaré ocorreu alguns dias antes do seu martírio, em Betânia, quando ele curou Lázaro, que sob a morte aparente (catalepsia), havia sido sepultado (João, 11:1-46). Ao encontrar-se com as duas irmãs de Lázaro, que choravam e diziam que se Jesus estivesse presente, Lázaro não teria morrido, ele também chorou. Os judeus que estavam presentes então comentaram o quanto Jesus o amava. Entretanto, Jesus sabia que Lázaro, de fato, não havia morrido, inclusive mencionou, antes de vir para Betânia, que a enfermidade dele não era para a morte, e sim, para a Glória de Deus. Portanto, as lágrimas de Jesus nesse episódio não deixam de ser intrigantes. Essa cura, entretanto, conforme predito por Jesus, iria contribuir para a sua identificação como o Messias, conforme as profecias, pois, as seitas judaicas o repeliam, à exceção dos Essênios (FRANCO, D.P. A Mensagem do Amor Imortal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues, cap. 28).

Diferentemente do episódio em Betânia, quando foi solidário à dor das irmãs de Lázaro, o Mestre se entristecia com o desvio moral dos homens: “este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mateus, 15:8). Conforme a doutrina espírita, Deus nos concedeu o livre arbítrio e os Espíritos superiores não interferem diretamente nas nossas decisões, de forma a não perdermos o mérito das nossas conquistas intelectuais e morais. Contudo, assim como os pais sofrem quando os seus filhos escolhem trilhar o caminho da delinquência e dos vícios, Jesus lamentava o nosso descaso perante os seus ensinamentos, vendo que ao recalcitrarmos nos erros, permanecemos estagnados espiritualmente, reencarnando para as devidas reparações em expiações dolorosas.

A respeito das lágrimas do Cristo, o Espírito Hilário Silva (XAVIER, F. C. e VALDO, W. A Vida Escreve, cap. 27), cita um episódio ocorrido durante a vida do apóstolo da mediunidade, Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento, Estado de Minas Gerais. O médium, ao se recolher para o necessário repouso, observou-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, volitando até atingir as esferas espirituais mais elevadas da Terra. Jubilante, reconheceu-se na presença de Jesus. Recordou as lições do Cristianismo, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem d’Ele a ecoar entre os homens, no curso de quase vinte séculos. Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar. Viu, porém, que Jesus também chorava. Recordou, então, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, que lhe atiram incompreensão e sarcasmo. Superando as limitações do momento, questionou-o mentalmente sobre a razão das suas lágrimas. Incisivo, sugeriu que talvez fosse pelos descrentes do mundo. Envolvido em uma atmosfera elevada, o missionário de Sacramento notou que em certo momento o Cristo lhe correspondia ao olhar. E, após um instante de atenção, esclareceu em voz dulcíssima que, na verdade, ele não sofria pelos descrentes, aos quais devemos amor. Chorava por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam. Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, Eurípedes voltou ao corpo físico. E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até à morte. Após a sua desencarnação em 1918, ele recordou-se do seu encontro com o Mestre Nazareno e, auxiliado pelos Espíritos Agostino de Hipona e João Evangelista, fundou no mundo espiritual o Hospital Esperança (OLIVEIRA, W. Lírios de Esperança. Pelo Espírito Ermance Dufaux, cap. 18), visando atender a todas as almas após a desencarnação, que haviam fracassado na Terra, mesmo tendo conhecimento da Boa Nova de Jesus (católicos, protestantes, espíritas etc.).

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante espírita

 

 

 

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