Fotografias preservadas pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo registram o jogo entre a Seleção Masters Italiana e o Clube Atlético Piracicabano
“A chuteira veste o pé descalço; o tapete da realeza é verde; olhando para a bola eu vejo o Sol; está rolando agora é uma partida de futebol”. A música, eternizada pela banda Skank, retrata uma das grandes paixões nacionais: o futebol. Nos times profissionais, nos campos de várzea, no cotidiano e nas torcidas, o esporte é indissociável da História brasileira.
A série “Achados do Arquivo” desta semana é dedicada ao futebol piracicabano, mais precisamente ao amistoso entre a seleção master (de jogadores já aposentados) da Itália e o CAP (Clube Atlético Piracicabano). Mas como, em 1987, o Estádio Barão de Serra Negra se tornou palco deste notável confronto?
Naquele ano, acontecia a primeira edição da Copa Pelé, um “mundialito” de futebol master. Foi uma competição que reuniu seleções de diferentes países, com locução de Luciano do Valle, atuação do próprio Rei Pelé (por alguns minutos) e vitória da Argentina.
Uma das seleções participantes era a italiana e uma importante personalidade possibilitou o encontro dos times da Itália e de Piracicaba: José João Altafini, mais conhecido como Mazzola, um piracicabano, nascido em 24 de julho de 1938, eternizado como um dos grandes jogadores no futebol tanto brasileiro como italiano, chegando a atuar nas seleções dos dois países, inclusive fazendo parte do elenco que trouxe o primeiro título mundial ao Brasil em 1958.
Mazzola iniciou a carreira no CAP e foi dele a iniciativa de unir a Seleção Master Italiana, que já estava no Brasil, e o time piracicabano, que seria composto por jogadores da ativa e aposentados que já haviam atuado em Piracicaba. O amistoso foi eternizado pelas lentes do fotógrafo Davi Negri, cujos registros, atualmente, encontram-se preservados pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba e também acessíveis na plataforma online de acervo histórico.
Nas imagens vê-se desportistas do futebol piracicabano, como o zagueiro Airton Luis Bertan, que atuou no XV de Piracicaba, presente em três títulos de acesso; o atacante Paulinho Massariol, o “Paulinho Piracicaba”, que foi artilheiro do campeonato brasileiro em 1978; o meio campista e atacante Jorginho Putinatti, que jogou pela Seleção Brasileira e pela Seleção Olímpica; o meio campista e ponta esquerda Eder Aleixo, que atuou na Copa de 1982, na qual carregava o apelido de “Canhão” devido à força de seu chute, o goleiro Dadá Fioravante e os jogadores Vavé, Vlade Rosalen e Tarcisio Mascarim (Napeva).
A seleção italiana também contava com jogadores de renome, como o defensor Francesco Morini, o “Morgan, o pirata”, que atuou na Copa do Mundo de 1974; o atacante Roberto Boninsegna, que jogou pela Seleção da Itália entre os anos de 1967 e 1974, inclusive na Copa de 1970, quando marcou dois gols na semifinal contra a Alemanha – um dos mais marcantes jogos de todas as copas; o lateral esquerdo e um dos ídolos da Internazionale, Giacinto Fachetti; o defensor Antonello Cuccureddu, que atuou pela Itália na Copa de 1978, o goleiro Ivano Bordon, o defensor Aldo Maldera e o meio campista Nevio Scala.
Mazzola era, sem dúvida, um dos grandes nomes da partida, e, segundo informações, no amistoso ele jogou pelos dois times, o primeiro tempo pelo time de Piracicaba e no segundo pela seleção italiana. Nas imagens, ele aparece trajando o uniforme do CAP. Por serem fotografias em preto e branco, não é possível saber ao certo como era a composição de cores da camisa, mas sabe-se que o clube carregava as matrizes azul, vermelho e branco.
Além de jogadores, personalidades que tiverem um importante papel no incentivo do esporte em Piracicaba também estiveram no jogo. Em uma das imagens Eder Aleixo aparece entre duas dessas pessoas: Bergamo, empresário e proprietário de uma camisaria, responsável por fornecer o uniforme do time, e Armando Dedini, empresário e grande incentivador no futebol em Piracicaba. Ele chegou a jogar junto com Mazzola na década de 1950 no CAP.
É possível também perceber que as “celebridades” presentes não se limitavam ao campo. Em uma das fotos, na qual observa-se a arquibancada e os torcedores, duas pessoas se destacam: Paulo Roberto Falcão, o Rei de Roma, um dos maiores volantes da história da Seleção Brasileira e ídolo do Internacional de Porto Alegre, e Madalena, a primeira (e única) vereadora travesti da Câmara Municipal de Piracicaba.
As fotografias não revelam o placar da partida, ou qual dos times saiu vitorioso, a informação provavelmente está na memória de quem presenciou o evento ou em jornais que noticiaram o amistoso. Mas a informação, talvez, não seja algo tão relevante, uma vez que a grandiosidade está no encontro desses dois times e de seus notórios desportistas. E, citando mais uma vez a música do Skank, “que emocionante é uma partida de futebol!”
Agradecimento – O trabalho com documento iconográfico não é fácil, ainda mais nesse caso, no qual quase (ou nenhuma) informação escrita foi encontrada na descrição das fotografias. Por isso, o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo faz um agradecimento especial a João Almeida, funcionário da Câmara e entusiasta da história do futebol, que auxiliou na identificação das imagens e do seu contexto.
A memória, às vezes, é a única ferramenta disponível para a identificação de fotografias. Sendo assim, caso alguns dos presentes não tenha sido identificado, ou tenha sido erroneamente identificado, ou se alguém tiver mais informações sobre esse acontecimento, entre em contato com o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo. Assim, juntos construímos a memória não só do futebol, mas de todo a cidade de Piracicaba.
Achados do Arquivo – A série “Achados do Arquivo” é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo e de Documentação, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba. Ela traz publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo. (Texto escrito por Giovanna Calabria, arquivista e chefe do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo)