Cinema – Mostra no Teatro do Sesc homenageia formato 16mm

Evento será aberto hoje, 5, e reúne desde obra expressionista alemã de 1924 à produção contemporânea Cisne Negro, de 2010

Em alusão ao aniversário de 100 anos da criação do formato de filme 16mm, o Teatro do Sesc Piracicaba realiza ao longo do mês de setembro, sempre às terças-feiras, a partir das 19h30, a Mostra 100 Anos do Filme 16MM. Com entrada gratuita, a mostra reúne desde obra expressionista alemã de 1924 à produção contemporânea Cisne Negro, de 2010. A terá quatro títulos, e cada um representando um aspecto da produção ou distribuição de filmes em 16mm. A realização é do Sesc com apoio da produtora Cine 16.

A mostra abre hoje, 5, com a exibição do filme Cisne Negro, de 2010, com Natalie Portman como protagonista. Às 19h30 tem bate-papo com Paolo Gregori, professor de cinema da Unimep e Alex Zen, da Cine 16, e a exibição logo em seguida, às 20h.

FORMATO 16MM – O filme 16mm, destaca Alex Zen, é revolucionário ao cinema por expandir a 7ª arte a espaços alternativos, permitindo que pessoas sem conhecimento técnico pudessem também fazer e exibir filmes. “O segredo estava na simplicidade do equipamento, em comparação com as pesadas e complicadas câmeras e projetores 35mm utilizados pela indústria cinematográfica. Foi o nascimento do cinema doméstico”, afirma.

Graças à pequena bitola criada pela Kodak em 1923, e bem antes da invenção do VHS, cinéfilos fundaram cineclubes (“film societies”) no mundo todo, em ambientes adaptados ou improvisados, para assistir, estudar e debater os grandes filmes de Murnau, Eisenstein, Chaplin, Goddard, Kurosawa e John Ford. Esses filmes circulavam apenas em cópias em 16mm porque os títulos já estavam fora do circuito comercial, que adotava o padrão 35mm dos pesados, caros e complexos equipamentos para operação.

Devido ao relativo baixo custo e natureza portátil, escolas de cinema também passaram a adotar o formato para produção de filmes com fins acadêmicos, auxiliando na formação de grandes cineastas pelo mundo todo: praticamente todos os mais consagrados realizadores do cinema do século XX, como Wim Wenders, Glauber Rocha, Spike Lee e Spielberg, foram iniciados no cinema com o 16mm. E mais do que isso: o 16 passou a ser um opção estética que atraiu miríades de realizadores profissionais, como Eduardo Coutinho, Spike Lee e Darren Aronovsky, cuja obra “Cisne Negro”, captada no formato, abrirá a mostra do Sesc.

“Com o 16mm, o cinema saiu dos cinemas, por assim dizer”, explica o curador da mostra e historiador do cinema Alex Zen, da produtora piracicabana Cine 16 que carrega no nome uma homenagem ao formato que revolucionou o alcance da imagem em movimento. “Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) projetores 16mm passaram a ser itens comuns nas escolas, universidades, órgãos públicos, empresas, sindicatos e clubes”, prossegue, “e o fenômeno dos cinemas itinerantes, em que qualquer espaço fechado – ou mesmo ao ar livre – poderia abrigar provisoriamente uma sessão de cinema, foi possível graças ao 16mm”, lembrando que seu falecido pai, “Zé Carlos”, foi projecionista itinerante nos anos de 1960-70 na região de Piracicaba, onde percorria os distritos levando um projetor 16mm para exibir filmes nas sessões improvisadas em galpões que lotavam.

Nessa imperdível mostra do Sesc, cada sessão contará com introdução do cineasta e professor Paolo Gregori, que também coordenará os bate-papos após as projeções autênticas em película, em que o projetor de filmes 16mm ficará posicionado ao fundo do teatro, reproduzindo uma sessão de cinema-raiz, como eram as projeções cineclubistas. Gregori, com longa experiência pessoal filmando em 16mm, e ostentando a sua “K3”, lendária câmera soviética trazida da Croácia quando lá esteve para estudar Cinema, conta que descobriu o formato ainda na infância, quando seu avô filmava a família e deixou-o filmar seu bolo de aniversário de sete anos: “de lá para cá não parei mais de filmar e sempre, quando posso, em 16mm, que é a minha bitola preferida na escola, na faculdade, na produtora, nas minhas viagens e em road movies”, afirma, evidenciando que, após cem anos, o formato ainda continua vivo nas mãos de muitos cineastas, inclusive profissionais. De fato, de olho em um nicho de mercado direcionado aos amantes da película, ainda existem fornecedores de filmes 16mm, como a própria Kodak, contribuindo para manter acesa a chama desse formato centenário.

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