Prof. Adelino Francisco de Oliveira
Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba
Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião
Celebrar aniversário é sempre um singular convite para se olhar para trás, avaliando todo o caminho já percorrido, mas também um convite para se contemplar o futuro, vislumbrando as perspectivas e possibilidades de tudo que ainda virá, compreendendo que o futuro, seja para qual direção apontar, é sempre a consequência direta das escolhas do hoje, do presente. Piracicaba comemora 256 anos, e seu futuro, como um devir promissor, depende, substancialmente, do presente que está sendo construído hoje, através de suas opções políticas. Qual Piracicaba estamos projetando para o amanhã?
Sempre considerei que o conceito de riqueza e desenvolvimento social deveria remeter, impreterivelmente, à real qualidade de vida das pessoas, na direção da garantia, da expansão e da democratização do acesso aos direitos de cidadania. O que significa dizer que Piracicaba é uma cidade pujante? O que representa, de fato, a Noiva da Colina, na altura de seus 256 anos, ser o centro de uma imensa região metropolitana? Cidade próspera é aquela que busca implementar as políticas públicas fundamentais, respondendo às demandas mais urgentes da sociedade e produzindo justiça social e ambiental.
Olhando para trás, voltando em um marco de 20 anos em sua história política, a cidade de Piracicaba caiu de vez no logro da gestão neoliberal. Inaugurando um ciclo hegemônico na administração pública, a visão neoliberal se instalou no centro do poder municipal, fazendo sucessivos governos, sob a liderança de um mesmo personagem político. Em 2020 a cidade fez a opção por radicalizar a gestão neoliberal, alçando ao poder municipal um agente da iniciativa privada, pronto para atender aos interesses do mercado.
O neoliberalismo é aquela concepção econômica que promete, por meio de eloquentes discursos e muito marketing, liberdade de mercado, empreendedorismo e sucesso meritocrático ao alcance de todos, mas acaba entregando para a cidade e sua população o desmonte dos serviços públicos, a pejotização das relações de trabalho, o mais profundo abandono social e a consequente expansão de toda sorte de desigualdades. Esse é o tamanho do engodo neoliberal. Em retrospectiva, são quase vinte anos dessa cantilena por parte das lideranças políticas eleitas no ciclo das cinco últimas eleições municipais em Piracicaba.
Interessante que um pouco antes em sua história recente, nos idos do ano 2000, portando o lindo simbolismo de abrir a cidade para o novo milênio, Piracicaba viveu a singular experiência política de uma gestão democrática, popular e participativa. Foi o tempo fecundo, promissor e efervescente do fortalecimento dos Conselhos Municipais, do Orçamento Participativo, da cultura pulsando nos bairros e de uma gestão municipal comprometida com os princípios fundamentais da democracia. Sem espaço para concepções neoliberais privatizantes, a educação, a assistência, a saúde e o serviço público em geral tornaram-se o centro de um desenvolvimento sustentável, em uma Piracicaba cheia de sonhos, confiante em seu porvir. Em dois mandatos, um vislumbre político de tudo que Piracicaba poderia ser!
Na festa de seus 256 anos Piracicaba é convidada a se debruçar sobre sua própria história, compreendendo a intrínseca relação entre as escolhas do passado, os equívocos do presente e as implicações para seu futuro. O desafio agora é universalizar o direito à cidade, com novas lideranças políticas, comprometidas com a defesa da democracia e com a plena realização dos direitos de cidadania. Um viva a essa Piracicaba que ainda não nasceu!