Fora da urna

Camilo Irineu Quartarollo

 

Sem voto, sem mandato. Fazer o quê? Agora, lamentoso, Bolsonaro repete o presidente russo pela traição do miliciano Prigozhin: facada nas costas. Se traído foi, quem traiu o ex-presidente brasileiro?  Por certo não foi o batalhão Wagner.

No golpe de 1964 também houve militares que não aderiram ao golpe, e perseguidos. Para derrubar Jango e instalar o general Castelo Branco é patente a influência dos EUA, documentada.

Bolsonaro trocou os comandantes antigos pelos de sua confiança, sem atentar aos princípios da antiguidade e merecimento, e costumava chamar as forças armadas de “meu exército”, mas o próprio não tem o prestígio nem a folha de serviços de Castelo. O ora inelegível quando no exército foi preso em 1986. No governo se fez acompanhar da ala mais reacionária do pensamento da caserna, a linha dura. Em 1977, o general Heleno, chefe da segurança do ex-presidente, era então capitão servindo no gabinete do ministro Silvio Frota, exonerado por conspirata pelo presidente Geisel.

Depois da intentona frustrada de 08/01/2022, havia uma minuta de golpe na casa do secretário da Justiça e ex-ministro de Bolsonaro, também no celular do Coronel Cid, este preso e ajudante próximo do ex-presidente, os meios evidentes para o golpe. Os criminosos nas dependências dos três poderes, ostentavam nas camisetas a imagem do Bolsonaro, palavras de ordem, bandeirolas, e fotos do evento em suas redes sociais de apoio.

O confuso governo de Bolsonaro foi marcado pela ausência de políticas públicas ou obras entregues, por motociatas, desmontes de órgãos e instituições, desmatamento recorde, agressões a jornalistas, isolamento diplomático e escândalos. Além da ação que o tornou inelegível, há outros processos, inclusive sobre as joias da Coroa saudita – um conto de alibabá, mas as joias são palpáveis e existem mesmo. O poder executivo dele tornou-se um apêndice do Legislativo com o orçamento secreto, dando status de super ministro ao presidente da câmara dos deputados.

Traídos seriam os acampados às portas de quarteis, iludidos sob uma bandeirola e os primeiros da fila a cair. Numa ‘missão impossível’, na qual, se pegos o mandante negaria e nega peremptoriamente qualquer ligação com os detidos. Muitos na prisão e os arrependidos chorando no plenário da CPMI ou com a Polícia Federal nas canelas.

Os fatos retrospectivos desde a bomba no aeroporto de Brasília evidenciam um golpe em andamento para 08/01/2022, com preparo e logística desde o acampamento do exército. Sem cochilar, Lula evitou a participação das forças armadas e principalmente do exército que abrigava células de golpistas às suas portas. Em vez da GLO preferiu decretar a intervenção no Distrito Federal, cujo governador alienou-se da função de proteger as dependências dos poderes.

Acabou? Não se sabe, pois esse ranço de ódio eivado por concepções nazistas sobrevive nas redes sociais.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

 

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