Irasshaimase

Alex Madureira

 

 

Eu não estava lá, mas me contaram e depois eu li num artigo do pesquisador Toshio Icisuka, na revista do Instituto Histórico Geográfico de Piracicaba (IHGP), dedicada especialmente aos imigrantes que se espalharam por nossa cidade, nossas vidas, nossa cultura. Eles chegaram a Piracicaba num dia 7 de setembro de 1918, vindos do Japão no navio Hakata Maru, que aportou em Santos. Dos ocupantes, 30 famílias pegaram um trem em São Paulo e desembarcaram na estação da Paulista, que naquele dia foi palco da celebração de uma festa de Independência do Brasil. E os que aqui chegaram, felizes, imaginavam que toda aquela recepção calorosa era para eles. Até que alguém no meio do público disse em voz alta, “Irasshaimase”, ou bem vindos, que soou incompreensível aos nossos ouvidos caipiracicabanos.  Especialmente pelos moradores de Artemis e da Fazenda Pau D´Alho, para onde muitos deles se encaminharam. Mas a chegada ficou com essa marca bem humorada, registrada nas páginas da história local.

Não há como esquecer aquele 18 de junho de 1908, a partir do qual se celebram 115 anos da imigração japonesa em nosso país e 105 deles entre nós, piracicabanos, de como não reverenciar o papel da comunidade na nossa política, artes, ciência, medicina, ensino, comércio, entre outros. E alinhavo aqui algumas das pessoas que conheci e outras de quem ouvi falar, que muito contribuíram para o desenvolvimento de nossa cidade em diversos campos.

Destaco inicialmente o multi administrador/gerenciador, Pedro Mizutani, que por muitos anos exerceu cargos estratégicos desde a usina Costa Pinto até a constituição da empesa Raízen, da qual chegou a cargos importantes e ainda hoje, como presidente do Conselho Administrativo da empresa, goza do respeito com lideranças locais e nacionais, por seu perfil de homem ético e empreendedor. Hoje, diverte-se com suas festas no Clube Nipo Brasileiro e canta suas músicas no idioma dos seus antecessores, fazendo dela instrumento de divulgação e aproximação dos costumes de seu povo entre nós brasileiros, quer seja nos espaços do Engenho Central ou da praça José Bonifácio, por onde espalha suas canções com apoio da comunidade. Lembranças também do gestor da IPP, Industria de Papel Piracicaba, Itiro Sato, falecido precocemente.

Ou dos políticos como o vereador Pedro Kawai, sempre diligente nas suas ações no Legislativo, no conselho consultivo do nosso XV de Novembro, no clube local da comunidade, nas esferas culturais e por outras onde transita com competência. E, para além dele, o recém chegado médico, Dr. Douglas Koga, hoje dirigente do Partido Novo em nossa cidade, com grande votação obtida nas eleições do ano passado para o cargo de deputado federal.

Não há como não lembrar de outras histórias que ouvi de antanho… o trio de ferro de comerciantes  da gastronomia no centro da cidade, como Oscar Nishimura, com seu restaurante famoso na praça central, Alvorada; do pasteleiro Mario Miyazaki também  japonês, na rua Governador, com seu tradicional e concorrido “Pastelão”, que depois também passou a funcionar do Shopping, no qual eu e minha família éramos frequentadores habituais, com seus pasteis e outro salgados imbatíveis e do emblemático Bar do Tanaka, em frente ao teatro São José, na rua dos mesmo nome, nos idos dos anos 60/70, quando também prosperou outra marca dos japoneses, noutro empreendimento marcante e ainda hoje lembrado com saudades pelos piracicabanos, como a família dos Benites, liderada pelo pai Antonio e seus sucessores, Carlos, Vado e Agostinho Benites,  filhos de d.Teruko Miyazaki, proprietários e administradores do nosso inesquecível Restaurante Mirante, um referência para nossa cidade, com seu peixes de vários tipos e sabores, desde 1962.

Nas áreas educacional e científica, não há como desconhecer os feitos do entomólogo Dr. Otávio Nakano; do professor querido da área de matemática, Shunhiti Torigoi, que nos legou o Colégio CLQ; do médico Francisco Komatsu, recentemente homenageado pela Academia Paulista de Medicina, pelos seus 50 anos de dedicação à medicina, ele que foi pioneiro no transplante de córneas em Piracicaba e grande incentivador de campanhas locais e estaduais sobre a doação de córneas para transplantes.

E da talentosa musicista e gestora da nossa Orquestra Sinfônica de Piracicaba, Mayume Micheletti, profissional exemplar e gestora competente dos assuntos administrativos, operacionais e musicais da orquestra. Enfim, que o eco da saudação dos “Bem-vindos” continue a ecoar com força entre nós, sempre que formos lembrar do papel dos nipo-brasileiros no passado e na construção do futuro da nossa cidade.

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Alex Madureira, deputado estadual PL e Corregedor da Alesp

 

 

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