Alvaro Vargas
O messianato de Jesus era extenuante, devido à constante procura das pessoas enfermas. O Espírito Amélia Rodrigues (FRANCO, D. P. Luz do Mundo, cap. 6), cita que logo após atender milhares de pessoas, curando cegos e leprosos, Jesus, sentindo-se esgotado, convidou os discípulos para travessia do lago com destino a Decápolis, embora fosse noite, contrariando as disposições de Pedro que estava preocupado com as tempestades que eram comuns naquela época do ano. Portanto, seria lógico concluir que Jesus preferia ministrar os seus ensinamentos antes de atender os enfermos, porque a transmissão de suas energias no processo de cura era extenuante.
Entretanto, o Espírito Humberto de Campos (XAVIER, F. C. Contos e Apólogos, cap. 6), registra uma discussão sobre este assunto no colegiado galileu, que esclarece a postura de Jesus referente a esta questão. Os apóstolos, visualizando o quadro desolador dos necessitados, sugeriram ao Mestre que ele primeiramente curasse os enfermos, pois, uma vez recuperada a saúde, poderiam aproveitar melhor as informações da Boa Nova. Compreendendo as limitações dos apóstolos com relação à natureza humana, Jesus aproveitou a oportunidade para ensiná-los, concordando com a sugestão apresentada. Entretanto, eles ficaram desapontados porque todos os enfermos, após serem curados, se retiraram, alegando outras necessidades prementes, recusando-se a ouvir a mensagem renovadora de Jesus. Desolados às margens do lago Genesaré, os apóstolos escutaram a advertência do Mestre: “estudem a experiência e guardem a lição. Aliviemos a dor, mas não nos esqueçamos de que o sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o a esclarecer-se para a vida mais alta. A carne enfermiça é remédio salvador para o espírito envenenado. Sem o bendito aguilhão da enfermidade corporal é quase impossível tanger o rebanho humano do lodaçal da Terra para as culminâncias do paraíso”.
A irresponsabilidade humana gera as enfermidades. Estão catalogadas pela ciência médica cerca de 50 doenças diferentes, causadas pelo tabagismo. Estudos também comprovaram os malefícios que o alcoolismo provoca ao corpo humano. Além das enfermidades provocadas pelos vícios, existem outras de ordem moral, como o egoísmo, o orgulho e a inveja. Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 913) considera que dentre todos os vícios humanos, o mais radical é o egoísmo, sendo este a verdadeira chaga da sociedade por neutralizar todas as nossas virtudes. O orgulho impede o indivíduo de realizar uma autocrítica positiva e superar as suas limitações morais. A inveja pode causar angústia, tristeza, mal-estar e doenças como a depressão e a ansiedade. O invejoso tem uma existência doentia, sem aspirar às conquistas alheias, alimentando o desejo de destruir a sua vítima. Como consequência da lei de ação e reação, colhemos os resultados dos vícios e atitudes equivocadas. Todos desejam gozar de uma saúde plena, mas se esquecem que somos espíritos eternos e trazemos uma bagagem milenar de virtudes e equívocos. Temos a opção de obter a cura através do exercício da caridade, tanto no ambiente profissional, como no círculo social e familiar que convivemos. Contudo, geralmente optamos por procrastinar, adiando e refutando os convites para a transformação moral.
Esse descaso dos indivíduos em relação à Boa Nova de Jesus, comprova o adágio popular, de que “as paredes de hospitais escutam preces mais sinceras do que as igrejas”. Quem não se habilita a vivenciar amor, será visitado durante a sua rota evolutiva pelo aguilhão da dor, necessária para a sua cura espiritual, que o ajudará a despertar, superando as ilusões do mundo material.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita