O que significa “não dar pérolas aos porcos”?

Alvaro Vargas

Jesus frequentemente utilizava expressões fortes em suas pregações, de modo a se fazer compreendido e facilitar a memorização da essência dos seus ensinamentos. Em sua Boa Nova consta: “não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem as suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão” (Mateus, 7:6). Evidentemente, essa advertência não pode ser interpretada em seu sentido literal. As coisas santas e as pérolas se referem aos seus ensinamentos. Os cães e os porcos simbolizam indivíduos despreparados para as receberem, podendo, inclusive, reagir negativamente. Similarmente aos animais irracionais, que nenhum interesse teria nas pérolas ou coisas santas, existem pessoas indiferentes às questões morais. Cairbar Schutel (Parábolas e ensinos de Jesus, pg. 46. A parábola das pérolas) esclarece que “os porcos não apreciam as virtudes das pérolas; preferem milho ou alfarrobas. Se lhes dermos pérolas, eles pisam-nas e submergem-nas no lamaçal em que vivem. Na verdade, há homens que são homens, e há homens que se parecem muito com suínos. O suíno vive exclusivamente para o estômago e para a lama. Os homens suínos também vivem de lama e para o estômago. A estes, as pérolas nada significam”.

O Espírito Bezerra de Menezes (XAVIER, F. C. Reformador, dezembro de 1975) alerta que no relacionamento interpessoal não nos compete violentar consciência alguma. As pessoas evoluem gradativamente e devemos respeitar o estágio em que se encontram. Habitamos um planeta onde predomina maldade. Atualmente, apenas um terço da população está eletiva às instruções espirituais mais elevadas. O próprio Mestre esclareceu que: “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mateus, 22:14). Antônio Luiz Sayão (Elucidações Evangélicas, pg. 179) sugere que “devemos sempre proceder conforme as circunstâncias de ocasião. Sondar o terreno, preparando-o. Se o reconhecer fértil, por pouco que seja, semear com prudência e precaução. Cultivar depois com cuidado a semente. Se, ao contrário, o terreno parecer árido e ingrato, guardar silêncio, demonstrando que não quer falar”. Contudo, é fundamental existir coerência com o que pregamos e o nosso comportamento social, pois a melhor maneira de divulgar a Boa Nova é vivenciá-la.

O Espírito Emmanuel (XAVIER, F. C. Fonte Viva, cap. 93) menciona que “o aprendiz, inquieto na comunicação de dons da fé às criaturas de projeção social, pode ser generoso, mas é imprudente. Porque um homem esteja bem trajado ou possua larga expressão de dinheiro, porque se mostre revestido de autoridade temporária ou se destaque nas posições representativas da luta terrestre, isto não demonstra a habilitação dele para o banquete do Cristo. Recomendou o Senhor seja o Evangelho pregado a todas as criaturas; entretanto, com semelhante advertência, não espera que os seguidores se convertam em demagogos contumazes e, sim, em mananciais ativos do bem a todos os seres, por ações e ensinamentos, cada qual na posição que lhe é devida”. Jesus, utilizando-se de uma parábola (Marcos, 4:10-12), descreveu o interesse relativo dos homens com relação às coisas sagradas. Conta que um agricultor, ao semear, as sementes caíram em quatro locais diferentes, respectivamente: na beira da estrada, sendo devoradas pelos pássaros; em solo pouco profundo, não enraizando suficientemente e morrendo; entre espinheiros, sendo sufocadas; em terra fértil, onde germinaram e deram bons frutos. Nesse ensinamento, as sementes significam as revelações divinas, e dos quatro locais semeados, apenas um frutificou, demonstrando a limitação da Humanidade em assimilar a Boa Nova do Mestre. A vasta maioria dos homens permanece refratária à transformação moral, necessitando de várias reencarnações expiatórias para evoluírem. Mas todos, eventualmente, despertarão, atendendo ao convite de Jesus.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

 

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