Os irmãos Luís Felipe e Carlos Eduardo encararam como diversão a tarefa de remover o que fosse possível do lixo que se acumula próximo ao córrego do Enxofre, no Monte Líbano. Gêmeos, eles tiveram trabalho redobrado para coletar uma infinidade de papéis de bala, embalagens de picolés, copos plásticos e outros materiais que se misturam ao mato alto das margens.
Os dois cursam o sétimo ano da Escola Estadual “Professor Manassés Ephrain Pereira”. Na tarde desta quinta-feira (4), a dupla e outros 20 colegas de classe participaram de mais uma atividade lúdica dentro da disciplina eletiva “Desvendando o bairro Monte Líbano”, que se propõe a levar os estudantes a interagirem com a região onde a unidade de ensino está inserida e identificar o que precisa ser melhorado.
O “miniarrastão ecológico”, como a tarefa foi chamada, recolheu das margens do córrego do Enxofre um volume que encheu 12 sacos grandes de lixo, um dos quais coletado pelo vereador Pedro Kawai (PSDB), que incentivou os alunos na missão. O parlamentar é parceiro da escola e convidado frequentemente para estar presente nas ações realizadas pelos estudantes no bairro.
Em governos anteriores, uma atividade semelhante, em que os alunos foram estimulados a mapear os pontos viciados de descarte irregular de lixo no Monte Líbano, teve efeito prático: Pedro Kawai intermediou com a Prefeitura, na época, a colocação de caçambas num sistema de rodízio pelo bairro, o que ajudou a conter a sujeira que se espalhava por ruas e avenidas.
O volume de material coletado no “miniarrastão ecológico” desta quinta-feira foi resultado de meros 25 minutos de “catança”. Sob o sol das 15h e uma temperatura de 29ºC, os estudantes saíram da escola e, a pé, desceram a rua Dona Stella até a avenida Thales Castanho de Andrade, onde percorreram 200 metros do córrego do Enxofre.
O grupo se equipou com luvas descartáveis e grandes sacos plásticos distribuídos por Gian Carlos Machado, fundador da SOS Rio Piracicaba, associação de pescadores esportivos que há três anos promove ações para a preservação do manancial, suas margens e afluentes. Para ele, envolver crianças e jovens em missões educativas é a chance de corrigir comportamentos motivados pela falta de acesso à informação no passado.
“Eles são o futuro das nossas gerações. Digo que meu avô e meu pai erraram e não souberam preservar o meio ambiente, e essa juventude, hoje, tem tudo para ter mais consciência e saber a importância do descarte regular do lixo”, comentou, chamando a atenção para o contato dos jovens com o conhecimento transmitido por escola e internet.
Acompanhada da professora Luciana Clementino Alves, a vice-diretora da escola estadual, Ana Karina Fonseca Franco, falou da importância de a formação dentro de sala de aula caminhar junto com a que os estudantes recebem dos pais. “Ensinamos aqui, mas a educação de casa é a mais forte que eles têm.”
Os gêmeos univitelinos da turma do 7ºB aprovaram a limpeza possível feita nas margens do córrego. “Foi bom demais porque nós ajudamos a não poluir mais o rio”, disse Luís Felipe. “Com esse lixo que estava aí, entope tudo e a água do rio transborda”, alertou Carlos Eduardo —o córrego do Enxofre deságua no rio Piracicaba.
De agasalho, bermuda jeans e chinelo, Charles Júnior, 13, também encheu um saco grande com pontas de cigarro, calota de carro, copos plásticos e até “pininhos” de drogas consumidas no local. Ele apontou dois culpados, e duas soluções, para a sujeira que constatou. “Precisa a Prefeitura colocar mais lixeira no bairro e o povo ter mais consciência”, afirmou. Ao longo do córrego, apesar de haver bancos e mesas de concreto, não há nenhum cesto de lixo.
Luiza Regina Santiago, 12, fez dupla com a amiga Isadora Joly, 12, para encher outro saco com lixo. Minuciosa, ela recolheu grande volume de embalagens de alimentos que foram parar no local. “Tem muita gente que não cuida daqui, não estão nem aí, deixam tudo jogado. Não pensam no próximo e, se você vai falar alguma coisa, é a gente que sai como errada”, desabafou, enfurecida.
Pedro Kawai aproveitou a caminhada para orientar as crianças sobre a coleta regular de resíduos e materiais recicláveis feita pela Prefeitura. O parlamentar destacou o impacto positivo da atividade na formação dos estudantes e na relação deles com o bairro onde a escola está inserida.
“É importante essa ação para a participação das crianças na vida da comunidade, pois, quando elas vêm para essa dinâmica, na prática, elas percebem o reflexo que é simplesmente jogar um papel no chão, o descarte irregular do lixo. Isso acende a consciência delas de que podem fazer algo para ajudar a comunidade”, analisou o vereador.