Por onde começar?

Adelino Francisco de Oliveira

A causa da justiça e da liberdade! A construção de uma sociedade com justiça e equidade, sedimentada em uma democracia de alta intensidade, aberta à diversidade e multiplicidade do humano, com estruturas voltadas ao pleno desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa – reconhecida em sua dignidade –, talvez se constitua como o grande desafio do contemporâneo. É fundamental reforçar a convicção de que a perspectiva de uma sociedade para todos deve se compor como o horizonte utópico inegociável. A causa da justiça, da liberdade se compõe como a única luta que de fato importa.

A fortaleza interior de um estóico! É preciso, antes de tudo, manter uma certa lucidez e equilíbrio emocional, para não sucumbir diante de tantas posturas absurdas, carentes de um mínimo de sensatez, reveladoras de limitadíssimas visões de mundo. O triunfo da ignorância e da estupidez, mesmo que momentâneo, pode ser perturbador. Ações violentas, brutais e ignominiosas, a produzirem verdadeiras atrocidades, que se levantam contra a dignidade da vida, podem causar profundo desalento e intensa desesperança.

Ativar a capacidade de pensar criticamente! A constância do pensamento crítico e problematizador configura-se como um elemento basilar para o desvelamento e superação de horizontes estreitos, decorrentes de concepções profundamente alienadas. Atento às contradições da realidade, o exercício do pensamento não se deixa manipular por ardis sensacionalistas, por desinformações e fakenews. O pensamento crítico tem sempre um potencial emancipador, capaz de conduzir para processos de libertação existencial e também social.

A ação política como serviço! É fundamental aprofundar o campo da práxis política, de maneira a avançar na compreensão teórica e no fortalecimento da militância e do engajamento. Os discursos apolíticos, que negam a política e buscam, inclusive, a destruição dos partidos, só servem para inviabilizar a mobilização e a luta por direitos. A política se constitui como a via para toda e qualquer transformação social. É por meio da política – do exercício do poder como serviço à coletividade – que se constrói o bem comum. Para uma práxis política libertadora, torna-se preciso a consolidação de uma democracia de alta intensidade, com plena participação popular.

Pensar globalmente e agir no território! Interessante que a radical e revolucionária transformação da sociedade pode ter como origem mudanças cotidianas, a atingirem as relações na esfera micro. Em âmbito menor, com abrangência mais restrita, profundas transformações podem ser gestadas. Há uma força potencial nos pequenos gestos, capaz de irradiar grandes transformações. Muitas vezes pequenas atividades, inseridas no mais cotidiano da vida, tornam-se relevantes e duradouras iniciativas, abrindo novas possibilidades para o conjunto da sociedade. É sempre necessário ter uma visão global dos problemas que definem a realidade, mas é importante também não se perder de vista que as ações e intervenções são implementadas no contexto mais local, na territorialidade.

A luta por justiça transforma a história! A concepção de que a história avança em um movimento dialético sustenta a esperança de que a resistência e luta produzirão frutos. Isso não significa aderir a uma leitura triunfalista e messiânica da história, mas possibilita sair do imobilismo, com a confiança de que é apenas a luta quem movimenta a história. Uma outra realidade, compondo uma nova sociabilidade, pautada nos princípios de justiça e liberdade, pode ser historicamente forjada.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor do Instituto Federa de São Paulol, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

 

 

 

 

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